ENIGMAS NO SINAL
Conto Curtido, Comentado e Compartilhado
Ordem na história: Eneas Barros
Início: 6 de dezembro.
Encerramento: 10 de dezembro.
Pessoas que curtiram, comentaram e compartilharam:
Ana Emília
Laura Ferreira
Luiz Ayrton
Rosália Mourão
Ilna Cantanhede
Myrian Lago
Paulo Moura
Francisco Canindé
Ivo Oliveira
Sidney Wernz
Simony Carbalho
Elizabeth Gonzalez
Laurenice França
Mauro Rodrigues
Carolina Meneses
Rita Moreira
Reginaldo Arcanjo
Renata Miranda
Sasha Couto
José Alves Filho
Anucha Melo
Vocês não vão acreditar!
Vinha eu hoje pelo caminho do trabalho, quando um cara em um carro começa a buzinar freneticamente, para chamar minha atenção. Não sei bem se era um cara; os vidros escuros não me ajudaram muito a identificar. Parecia que ele queria me dizer algo ou me mostrar algo, sei lá. Quando estacionei o carro, sabem o que ele fez? Não deu para ver direito, mas parecia gesticular, ora com uma mão (não confundir com um mamão), ora com a outra. Pensei inicialmente se tratar de um velho amigo que há tempos eu não via e que talvez quisesse colocar o papo em dia, mas poderia ser um desconhecido, quem sabe?
Cheguei a pensar... Confesso que passou pela minha cabeça que poderia ser algum fã atrás de um autógrafo, mas quem sou eu? É bem verdade que lancei um livro outro dia, mas não havia tanto sucesso assim para criar fãs pelas ruas em frenéticos acenos. Uma professora havia me dito que os seus alunos estão procurando ler um livro que eu havia lançado no ano passado. Fiquei ali, pensando, enquanto dirigia, que talvez fosse um de seus alunos a me abordar sobre isso. Mas... Não, definitivamente não era isso o que aquele cara queria comigo. Lembro que certa vez me meti a compositor e uma grande cantora local acabou por gravar uma música minha, que começava assim: “guabiraba madura, de manhã depois da chuva, pela terra molhada..." Mas já faz tanto tempo que com certeza não era ninguém lembrando disso.
Fiquei com receios de abaixar o vidro, pois nessas horas não se deve confiar muito nesses malucos que andam pelas ruas da cidade. Se fosse uma mulher, quem sabe sairia correndo, me agarraria pela gola e me tascaria um beijo, heim? Seria até interessante, mas muito arriscado. Muito arriscado mesmo! Olhei para o velocímetro e pensei que eu poderia estar dirigindo muito devagar e ele, com todo aquele frenesi, se impacientava, buzinando, pedindo que eu saísse do seu caminho. É, acho que foi isso. Enquanto gesticulava, me dirigia desaforos de todo tipo, embora eu não ouvisse uma palavra. Se fosse verdade, estava muito cedo para tanto estresse. Poderiam não ser desaforos... Terrível, essa dúvida. Mirei-me no espelho e notei o quanto meus cabelos estão clareando. Será que ele gostaria de me perguntar onde os trato, para manter essa cor prata que alguns insistem em chamar de branco? Não, não era isso. Se os vidros estivessem abaixados, eu juro que poderia ouvi-la cantar, se você uma mulher: “Demorei muito pra te encontrar... agora eu quero só vocêêê... Seu jeito todo especial de ser... Fico louco por você..."
Ah, dúvida atroz que me perseguia naquele começo de manhã. Se fosse dos amigos que tenho, estaria me convidando para tomar uma cerveja gelada em algum boteco, mas aquilo lá é lugar de se fazer um convite desse! E nem hora! Eu estava cada vez mais curioso. Será que a porta do carro ou a tampa do tanque de combustível estavam abertas ou o pneu seco? Comecei a acreditar que essa pessoa me confundia com outro ou queria apenas gozar da minha cara e perguntar se eu era Papai Noel e por que havia feito dieta. Mas todo cuidado é pouco, pois não se pode ir abrindo as janelas para qualquer intruso. Se fosse em São Paulo, aí, sim, que eu nem teria ligado para esses reclames. Olhei pelo retrovisor, para ver se havia algum burro amarrado no carro ou outras coisas incríveis de se ver, mas nada.
O fato é que uma pessoa continuava a buzinar freneticamente, como se quisesse chamar minha atenção. Observei que o sinal estava fechando e pensei: "Bom, o carro dele deve emparelhar com o meu, assim vamos resolver isso de uma vez por todas". Foi dito e feito: o sinal fechou e eu parei o carro. Logo, o carro do buzinador parou ao lado do meu. Sabem quem vi, fazendo gestos e todo aquele estardalhaço? Não sabem? Não era um grande amigo querendo aproveitar a oportunidade para me dar um bom dia bem espalhafatoso. Mas, se não sabem quem era, eu também não sei, pois o sinal abriu e ele sumiu na avenida longa, sem me dar chances de reconhecê-lo.