História e geografia de um estado fascinante
Texto do professor Noé Mendes Oliveira (1935+1990), escrito em março de 1982, extraído de "Piauí, Terra Querida", de Eneas Barros.
O processo de ocupação do solo piauiense teve início na segunda metade do século XVII. Paulistas, baianos e pernambucanos foram os primeiros desbravadores do imenso espaço habitado por inúmeras nações indígenas. Eles implantaram sus fazendas de gado numa terra conquistada palmo a palmo, a custo de sangrentas lutas. Como essa conquista se deu do sertão para o litoral, justamente o contrário do que ocorrera nos demais estados litorâneos brasileiros, o Piauí adquiriu um contorno geográfico irregular, estreito no litoral e alongando largo no interior.
A partir do ano de 1718 foi criada a Capitania de São José do Piauí, tendo como capital a Vila de Nossa Senhora da Vitória do Riacho da Mocha, a futura cidade de Oeiras.. Na época do Império, precisamente em 1852, a capital foi transferida para Teresina, localizada às margens do rio Parnaíba e especialmente fundada para ser a nova sede da Província. Essa transferência foi motivada por fatores de ordem geopolítica e econômica. Oeiras estava encravada em pleno sertão, sem meios de acesso e comunicação.
A morfologia da região piauiense caracteriza-se pelas baixas altitudes, apresentando vastos chapadões, planícies e vales úmidos. As elevações são numerosas e recebem denominações regionais de serras, morros, chapadas e chapadões, apresentando-se sob forma de “cuestas” e “inselberg”. Tal fenômeno provoca o surgimento de formações geológicas monumentais e pitorescas, espalhadas por todo o estado. Nosso ponto mais alto localiza-se na chapada das Mangabeiras, com 880 metros de altitude, no extremo sul do estado.
A vegetação do Piauí é caracterizada pela caatinga e pelos cerrados ou agrestes, que ocupam quase toda a sua área. Existem, ainda, regiões de mata densa e de cocais, onde predominam as palmeiras babaçu e carnaúba.
A rede hidrográfica piauiense é formada pelo rio Parnaíba e seus afluentes, além de algumas formações lacustres. O Parnaíba constitui a grande marca ecológica da região. Com 1485 quilômetros de extensão, serve de fronteira com o Maranhão e representa o traço divisório entre a caatinga do nordeste semiárido e as terras úmidas e florestas equatoriais no norte amazônico.
O litoral do Piauí tem 66 quilômetros de extensão e é marcado por extensas e ensolaradas praias, cercadas pelo encadeamento de dunas de areia branca e de lagoas de água doce. O Parnaíba despeja suas águas no Atlântico, abrindo um grandioso delta com cerca de 90 ilhas.
O Piauí de hoje é o resultado dos diversos componentes de sua formação histórica, étnica, social e econômica, aliada fortemente a elementos físico-geográficos. Sua população reflete a participação dos estoques raciais brasileiros primitivos do branco, do negro e do índio, e a economia está centrada na atividade agro-pecuária. A marca profunda destes elementos básicas está na casa de taipa coberta de palha de babaçu, carnaúba ou buriti, e na fazenda de gado do sertão. Está na jangada do litoral, no carro-de-boi do sul do estado, na casa-de-farinha das fazendas. Está na figura “euclidiana” do vaqueiro, que povoa o Piauí de norte a sul, na mulher que quebra o coco babaçu, no tirador de palha de carnaúba, na tecedeira de rede. Está na dança e folguedos folclóricos, nas lendas e nas tradições populares. É todo esse universo cultural e paisagístico que o visitante vai encontrar no Piauí. Tudo muito simples e espontâneo, quase oculto no anonimato, mas que, certamente, surpreenderá. Sim, o Piauí é uma surpresa fascinante de belezas e de hospitalidade ao alcance dos olhos e do sentimento do turista.