Conta uma anedota brasileira que, no século XIX, de data imprecisa, um libanês de nome Kalil integrou-se a uma expedição à Amazônia e perdeu-se em plena selva. Dado como morto, Kalil foi reencontrado 12 anos depois. Com a espontaneidade característica dos povos árabes, Kalil integrou-se aos índios e tornou-se cacique de uma tribo, repassando a sua experiência na arte de produzir peças em couro e borracha. Quando foi encontrado, lamentou aos amigos apenas um pequeno infortúnio: a forte saudade dos deliciosos pratos de sua terra natal.
Os sírio-libaneses nasceram para a gastronomia. Os costumes da boa receptividade estão tão arraigados que fizeram dos mezzes uma tradição que se incorporou à vida brasileira. Comumente chamados de entradas ou petiscos, os mezzes trazem o desejo de fartura e oferecem um desfile de sabores. Dispõem-se às mesas permanentemente, para deleite dos visitantes, e podem ainda ser acompanhados do Arak – bebida típica, e pelo delicioso aroma do narguilê – o cachimbo coletivo do mundo árabe.
Nos idos de 1992, Jorge Amado escreveu um romance intitulado “A descoberta da América pelos turcos”. Referia-se o escritor baiano não aos habitantes da Turquia, como pensamos em uma primeira interpretação, mas pela forma brasileira como designamos todos os árabes, fossem eles da Síria, do Líbano ou de fato da Turquia. Mas os “turcos” também aportaram por essas plagas e hoje formam uma comunidade crescente, reunidos na Sociedade Sírio-Libanesa do Piauí, presidida pelo doutor Dib Tajra.
A gastronomia sírio-libanesa e os costumes da boa mesa vieram juntos com seus imigrantes e limitavam-se, porém, à sorte das visitas entre familiares e amigos. Com o passar do tempo, alguns ousados gourmands arriscaram-se a oferecer pratos árabes em eventos e, outros, como parte integrante dos cardápios de alguns restaurantes. Mas a grande maioria enveredou por caminhos que se distanciaram da originalidade dos acepipes sírio-libaneses, transformando-os e adaptando-os a paladares menos exigentes.
Pensando em resgatar a verdadeira gastronomia da costa do Mediterrâneo, acompanhada por seu aroma contagiante, o empresário e restaurateur Paulo Tajra está implantando em Teresina o restaurante Aroma Árabe, além do La Pâtisserie Favorito, especializado em pães, tortas e doces finos. O Aroma Árabe chega para suprir a carência que existia na cidade, trazendo para a mesa o diferencial da originalidade dos pratos, os quais serão elaborados por experientes cozinheiros de renomados restaurantes nacionais, especializados em cozinha sírio-libanesa.
Com essa iniciativa, os descendentes árabes poderão matar a saudade ao desfrutarem de pratos como o Homus, deliciosa pasta de grão-de-bico, temperada com gergelim, alho e limão; o Babaganuche, uma também deliciosa pasta de polpa de berinjela assada, temperada com molho de gergelim e alho; o Tabule, uma salada tipicamente árabe, preparada com alface, tomate, hortelã e salsinhas picadas e grão de trigo; e ainda as Sfihas, os Kibes, os Charutinhos, os Maxixes Recheados, o Couscous Marroquino, o Arroz Sírio, o Quiabo com Carne, o Michui de Cordeiro, a Kafta no Espeto, além de sanduíches à base de Pão Sírio.
Muitas outras opções fazem do cardápio do Aroma Árabe um verdadeiro convite à transposição atlântica e ao cruzamento do Mediterrâneo, para desembarcar nas origens de um povo que trouxe o refinamento cultural e miscigenou não apenas os costumes, mas o sabor, a música, a alegria e a boa mesa.
Nota: O restaurante Aroma Árabe funciona na Avenida Nossa Senhora de Fátima, 1839. Fone: 3232-4414. E-mail: favorito@piaui.com.br. Site: www.favoritorestaurante.com.br