Insisto em afirmar que a atividade turística só vai pra frente se houver a inter-relação entre três fenômenos da vida: o social, o empresarial e o poder público. A quebra de qualquer um afeta os demais, e um não pode viver sem o outro. Fico me perguntando por que algumas cidades viram um caos urbano, diante de um fato simples e corriqueiro, que todos os anos mostra as suas garras, ora com maior força, ora sem força alguma: as chuvas.
Todos os anos chove no Piauí. E todos os anos as cidades alagam. Em Parnaíba, o período da Semana Santa foi de chuvas. Muita água desabou sobre a cidade, torrencialmente. Diferentemente do que ocorre em Teresina, as chuvas no litoral são longas e constantes. E todos os anos elas chegam com aviso prévio, mas os administradores públicos estão pouco se lixando. Um exemplo está no caos que se instalou em Parnaíba.
Uma rápida visita pelo centro da cidade ou pelos principais acessos demonstra que a prefeitura não está nem aí. As ruas, esburacadas e empoçadas, exibem esgotos mal projetados e escoamento sofrível. A lama se espalha, fétida, servindo para a proliferação dos mosquitos e das temidas muriçocas e suas picadas agudas. Estamos em período de alta estação, feriado prolongado, ideal para passeios, ainda que em período chuvoso. Muitas famílias viajam nesse período. No entanto, vê-se uma cidade maltratada pelo descaso, pela falta de iniciativa e da visão que se espera dos seus administradores. Caminhar pelo centro histórico é uma tarefa árdua. Esquecem-se de dar as condições para que os visitantes façam o óbvio, que é visitar. Mas o tempo vai passando e quem lucra mesmo são os outros destinos que se antecipam ao turista e se preparam para recebê-los. O governador Wellington Dias asfaltou os principais acessos ao litoral e as vicinais que ligam aos atrativos. Mas isso não basta. Falta a resposta dos empresários e das prefeituras, porque sozinho o governador não vai muito longe.
Um outro aspecto que chama a atenção, fugindo um pouco do saneamento básico, é a parte cultural. A casa de Simplício Dias da Silva, um homem que fez muito por ele próprio e ganhou destaque na história por conta de suas atrocidades e atividades comerciais, continua caindo aos pedaços. Quando lancei a segunda edição e quarta reimpressão de “Piauí, Terra Querida”, em janeiro de 2007, decidi colocar uma foto da casa de Simplício Dias da Silva em ruínas. E coloquei. No texto, eu salientava que até aquele momento os governantes não haviam se interessado em preservar a memória de um de seus maiores expoentes. Eu havia escrito que o então governador Mão Santa, em seus acessos discursivos de professor de história, constantemente citava Simplício Dias em suas longas falas, e nada fazia pela sua memória. “Na prática, a teoria é outra”, como bem disse Joelmir Beting. Mas um professor de Turismo, amigo meu, me desestimulou a manter o texto, achando que o livro estaria defasado tão logo o casarão fosse recuperado. Até agora já se passaram 3 anos e nada foi feito. Começo a ter certeza de que conversa de político é pura falácia, e me desencanto ao crer no que dizem, procurando seguir a máxima que encerrou o diário de Anne Frank: “apesar de tudo, ainda creio na bondade humana”. Estou sendo enganado em minha ingenuidade.
Se quiser um conselho, não venha a Parnaíba. Pelo menos até que as autoridades percebam que o turista sumiu, que o último a sair apagou a luz. Um baque na economia das empresas que oferecem serviços turísticos poderia induzir os governantes a se estimularem. E até agora ninguém disse nada. Parece até que não é com eles.