De vez em quando, o serviço público brasileiro se redime, por contar, entre os seus, com pessoas honestas, competentes, nomes que não cairão por terra ao primeiro escândalo. É o caso de Cineas Santos, que Eneas Barros me informa ser o novo presidente da Fundação Cultural Monsenhor Chaves. De parabéns está não o Professor, pelo abacaxi que aceitou descascar, mas a cidade e o povo de Teresina, pelo acerto da escolha. Primeiro porque Cineas é muito maior e mais importante do que os cargos e funções que vier a ter: não se deixará, pois, enganar pelo brilho do poder e pelas pompas do mundo, que tanto seduzem mas que tão pouco valem; segundo, porque é do ramo, com o saber de experiências feito, como disse o poeta Camões. Assim, muito poderá fazer pelos teresinenses, a partir da idéia, que sempre teve, de que cultura, educação e arte não são o fim de si mesmas, a razão de ser delas próprias, mas instrumentos de promoção humana e de justiça social.
Bons exemplos são poucos, mas Cineas os tem. Ao deixar o Ministério da Fazenda no Governo Venceslau Braz, em 1918, o mineiro Antônio Carlos Ribeiro de Andrada pediu a Joaquim Larragoiti, o milionário dono da Sul América, um empréstimo para pagar aos credores. Resposta do capitalista: “Um homem que teve a chave dos cofres públicos nas mãos e me pede dinheiro para saldar dívidas, não me interessa como cliente: eu quero é trabalhando aqui, como diretor da minha empresa!” E assim foi.
O outro modelo é daí mesmo, o piauiense Joaquim Lemos Cunha, que nomeia, por sinal, a rua em que mora Cineas. Interventor do Piauí em 1931, ao desocupar o palácio teve de vender a bicicleta para não atrasar o aluguel da casa onde residia. Este é o Brasil: uns ganham Land Rover de presente, outros vendem a bicicleta. Entre a corrupção motorizada e o andar a pé, mas de cabeça erguida, ponho minha mão no fogo pela opção de Cineas. Alguém discorda?
(texto de Edmílson Caminha)