Paul Bocuse é o maior nome da gastronomia francesa. Na verdade, é uma lenda que criou a “nouvelle cuisine”, uma cozinha moderna que mistura a culinária tradicional a toques regionais. O Chef busca nas feiras locais, nas esquinas ou nos arredores os ingredientes que comporão os seus pratos, trazendo para a mesa uma combinação clássica personalizada pela tipicidade local: a gastronomia contemporânea.
O grande Chef francês fez muitos discípulos, dentre eles o conterrâneo Laurent Suaudeau, que começou a exibir sua vocação aos 15 anos de idade. Laurent iniciou ao lado de grandes Chefs que conduziam a maior referência gastronômica do mundo: a cozinha francesa. Com muito esforço, conseguiu alcançar uma vaga no concorrido restaurante de Paul Bocuse. Era um desejo ardente, como o de muitos iniciantes.
Em 1980, Bocuse ofereceu a Laurent a oportunidade de trabalhar como Chef Assistente no Le Saint Honoré, restaurante de um hotel de cadeia francesa instalado no Brasil, o Méridien, no Rio de Janeiro. Influenciado pelo rigor de uma cozinha refinada e disciplinada, Laurent sentiu dificuldades com a baixa qualificação do pessoal. No entanto, observador atento dos ensinamentos do mestre, percebeu que os ingredientes típicos brasileiros eram ricos e ideais para instalar a “nouvelle cuisine” de Bocuse. Cupuaçu, manga, tucupi e outras delícias típicas foram se incorporando aos seus pratos, surpreendendo clientes e agradando aos paladares exigentes dos freqüentadores do Méridien. Em um ano, Laurent assumiu a Chefia de Cozinha do restaurante do hotel francês.
Em 1987, um ano após Laurent abrir seu próprio restaurante no Rio de Janeiro, que levou o seu nome, mantinha em seus quadros um confeiteiro piauiense de Pedro II, que acabou por lhe apresentar o sobrinho Antonio Francisco dos Santos, conhecido como Naim, para quem pediu uma oportunidade. O Chef francês perguntou o que ele sabia fazer: “Nada”, respondeu Naim. Por conta da sinceridade, acabou na pia para lavar pratos e panelas, onde passou três anos. Nesse meio tempo, Naim ajudava os cozinheiros a limpar peixes, cortar verduras, guardar carnes, tomando iniciativas de quem deseja subir na vida. O Chef percebeu o interesse do rapaz e acabou por promovê-lo a Ajudante de Cozinha. E Naim não parou mais de crescer profissionalmente.
Em 1991, Laurent mudou o seu restaurante para São Paulo e levou Naim junto, que à época já era Cozinheiro. Três anos depois, começou a pensar na possibilidade de desgarrar-se do Chef e seguir sozinho. Mais uma vez, Laurent estendeu-lhe a mão e conseguiu ao agora ex-aprendiz a Chefia de Cozinha do restaurante do Merit Plaza Hotel, em Belo Horizonte. Mas o grande trunfo de Naim ainda estava por vir.
Em 1996, o Concurso Nestlê Toque D’Or, que oferecia a chance de representar o país no Bocuse D’Or, elegeu Naim o Melhor Chef de Cozinha Brasileiro. Com o título, o nosso Mike Tyson (na visão do próprio Paul Bocuse) arrumou as malas rumo à Lyon, na França, carregando na bagagem duas sugestões de pratos. O concurso aconteceu nos dias 28 e 29 de janeiro de 1997.
Na etapa nacional do Nestlê D’Or, Naim concorreu com Chefs como Alex Atalla e Carlos Mesias, e na etapa internacional chegou a chamar a atenção de Bocuse pelas suas técnicas de fatiar carne de porco. Os dois pratos eram à base de bacalhau e porco. O classificado foi Tranche de Porco Laqueada com Sementes de Coentro e Tamarindo, deixando para trás concorrentes de países como Itália, Inglaterra, Luxemburgo e Japão.
Com um honroso décimo lugar na bagagem, a maior classificação já alcançada por um Chef brasileiro no Bocuse D’Or, Naim desembarcou no Brasil direto para chefiar a cozinha do Cantaloup, em São Paulo, onde ficaria até 2006. Nesse meio tempo, foi matéria em diversas revistas especializadas em gastronomia, especialmente a Gula, Prazeres da Mesa e Go Where, tendo inclusive sido destaque também na revista Época. Algumas classificações de Chefs brasileiros no Bocuse D’Or: 1987, Edgard de Mello - último lugar; 1995, Antonio "Russo" de Oliveira – 16º lugar; 1997, Antonio "Naim" Francisco dos Santos – 10º lugar; 1999, Frederico Frank – 12º lugar; e 2001, Adilson Pinheiro Batista – 16º lugar.
O restaurateur Paulo Tajra Melo, um dos pioneiros em gastronomia contemporânea no Piauí e idealizador da rede de restaurantes Favorito, com base em Teresina, conhecia a fama de Naim e sabia do respeito que impunha junto a grandes cozinheiros. Como piauiense de Pedro II, Naim já vinha estudando a possibilidade de mudar-se para o Piauí, quando Paulo Tajra apareceu com a proposta para o Chef dirigir a cozinha do então Mr. Paul, que posteriormente mudou para Favorito Bistrô. Em 2005, unindo o útil ao agradável, Naim mudou-se para Teresina e trouxe toda a família para uma nova vida em sua terra natal.
O Favorito Bistrô é um laboratório de experimentos gastronômicos. A cada novo cardápio atualizado, novos desafios são elaborados pelas mãos hábeis do ex discípulo de Laurent, que chegou a confessar que a esposa considerava Naim o cozinheiro que tinha as mãos mais parecidas com as suas. Para Laurent, um grande cozinheiro precisa necessariamente ter duas qualidades: habilidades com as mãos e humildade, e ambas são intrínsecas a Naim.
Paulo Tajra e seu criativo Chef são fieis aos princípios da “nouvelle cuisine”. Pensam juntos os pratos que enriquecem o cardápio do Favorito Bistrô, associando o clássico ao regional, como a deliciosa entrada Mousseline de Mandioquinha com Camarão ao Perfume de Gengibre ou a massa Risoto de Frutos do Mar e Creme de Limão Doce ou a Ripa de Costelinha de Porco com Risoto Mulato e Couve Mineira Frita ou a Pescada em Crosta de Babaçu com Risoto de Palmito e Lâminas de Bacon ou ainda o Robalo com Risoto de Avocado e Castanha de Caju. Como se observa, são pratos que trazem o feitio clássico, com decoração delicada, e utilizam ingredientes disponíveis nas feiras e mercados locais, para dar um toque personalizado ao prato.
O Favorito Bistrô funciona em Teresina à Avenida Nossa Senhora de Fátima, 2616 e está aberto de terça a sábado para o jantar.