Eu tenho uma meia dúzia de amigos (e eles sabem de quem eu falo) que costuma me enviar E-mails de auto-ajuda. Cheguei até a responder a alguns, pedindo que não percam os seus preciosos tempos comigo, mas não tem jeito. Volta e meia chegam aquelas mensagens sentimentais, movidas a fundo musical de cair em lágrimas, além de virem anexados um monte de E-mails com cópia – dose boa e certa para os hackers que querem multiplicar os endereços de suas malas diretas.
Recentemente, associei alguns E-mails ao que se tem observado nas televisões e nos portais, sobre palpites em relação aos resultados da Copa do Mundo de Futebol. Primeiro foi uma história mirabolante em que a Nike teria comprado nossos jogadores e feito acertos obscuros para o Brasil ganhar em 2002, a Itália em 2006, a Argentina em 2010 e a Alemanha em 2014. Foi só a Argentina ameaçar com os gritos do Maradona para as previsões começarem a assustar os brasileiros, daí correram para “tornar público” uma história envolvendo a Nike e o amarelão de Ronaldo Fenômeno momentos antes do jogo em 2006.
Depois veio um polvo alemão em um aquário, de nome Paul (não sei se atende pelo nome...), que acertou (pasmem!) todos os palpites da Copa, envolvendo jogos de sua seleção natal e, com boa mira aquática, o resultado final do mais importante campeonato de futebol do mundo. E Paul não errou! Há quem pense em pedir a ele que faça também previsões para eleições e, como não poderia deixar de ser, resultados econômicos.
Em seguida, recebi um E-mail que me mandava somar anos de campeonatos passados, subtrair de outros, acrescentar isso e aquilo até que o resultado seria a Alemanha vencedora da Copa de 2010. Veio ainda um periquito que previu a vitoria da Holanda. Como esses, muitos outros devem ter sido disparados, os quais por felicidade não atingiram minha caixa postal.
No interessante livro “O mundo assombrado pelos demônios”, o cientista Carl Sagan faz extensa abordagem sobre a importância de crermos na ciência e não nos deixarmos envolver pela pseudociência, exatamente aquela que insiste em nos provar que um polvo é capaz de prever resultados de ações futuras. A lei da probabilidade explica que um fenômeno pode se repetir incontáveis vezes, especialmente quando essa probabilidade em jogo sejam consideráveis 50% de chances, ou seja, o polvo trabalhou com apenas duas possibilidades. Imagine alguém que acerte as seis dezenas da Mega-Sena, um número após o outro, entre mais de 50 milhões de apostadores! A probabilidade, nesse caso, é de um para mais de 50 milhões, enquanto Paul trabalhou com um para dois times. Daí a passarmos em crer nos acertos de macacos de realejo, em búzios, cartomantes, bola de cristal é um passo muito curto.
Eu gostaria apenas de pedir aos meus amigos, entusiastas das ciências ocultas, que me mandassem E-mails explicando os erros das previsões retransmitidas, que escorregaram na casca de banana espanhola. Um deles já me explicou: “pior que isso é a nova maracutaia da FIFA: Argentina vencendo a Copa do Mundo em 2014 no Brasil”. Eita mundão sem porteira...