Em palestra na abertura do Encontro Piauiense de Taxistas, no último dia 23 de março, a Superintendente do STRANS, Alzenir Porto, disse que seria uma irresponsabilidade ficar concedendo novos alvarás para funcionamento de novos táxis. Argumentou que existem mais de mil e quinhentos táxis na cidade, deixando claro que a concessão desenfreada tende a prejudicar os profissionais que sobrevivem desse mercado.
Aproveito a palestra da superintendente para fazer um gancho com a situação dos restaurantes de Teresina, cidade nossa que está se transformando em um polo gastronômico. De repente, muita gente começou a achar que vender comida é um bom negócio, multiplicando as casas de alimentação de forma desenfreada. Será que Teresina suporta tanta concorrência? O que ocorre, na verdade, é que esse crescimento tende a fragmentar a procura, atingindo ou até ultrapassando o seu ponto de saturação.
No estado americano de Nebraska, a abertura de novos bares ou de restaurantes que se dispõem a vender bebidas alcoólicas é submetida à aprovação da Câmara de Vereadores, que analisa índices de alcoolismo na cidade e o ponto de equilíbrio da oferta, para evitar o fracasso do novo empreendedor. Em Teresina, as zonas geográficas são bem distintas, e cada uma tem as suas peculiaridades. No último semestre, a zona leste atingiu um crescimento superior a 40% de novos restaurantes, e a cada mês que passa novas casas vão sendo abertas, entre buffets, bares, cafés, lojas especializadas em sushi ou comida típica, e até refinados restaurantes de alta gastronomia. Muitos não se consolidam nem perduram o suficiente para estimular a continuidade do negócio, e o que se vê são casas fechando as portas com a mesma dinâmica com que abriram. Posso até compreender que empreendimentos de sucesso tendem a crescer os olhos de quem dispõe de alguma verba para investimento, e o setor de gastronomia tem estimulado isso. De repente, repito, muita gente passou a achar que entende do ramo, pessoas que sequer conhecem os mercados da cidade e não sabem diferenciar carnes ou selecionar verduras. Para esses, o importante é o caixa no final do dia, submetendo o ato de servir uma boa refeição a um mero encontro de contas.
Não quero parecer pretensioso, mas o que se vê em muitas casas novas é o improviso e a falta de profissionalismo, especialmente na adaptação das casas e na montagem das equipes de salão e cozinha. Bastam um bom terraço, uma mangueira frondosa ao lado, um cimentado, uma pequena reforma, uma velha cozinheira amiga da família e algumas mesas para que a cidade assista ao surgimento de um novo restaurante, medindo-se as devidas proporções. E, o que é mais grave, esses novos investidores sequer têm afinidade ou experiência no ramo e não sobrevivem disso. Não sei como fazem para conseguir alvará de funcionamento, mas sei que os restaurantes tradicionais, cujos proprietários vivem da gastronomia, são fiscalizados constantemente e mergulhados em impostos e obrigações fiscais que os penalizam muito mais do que estimulam.
Teresina, por não ter praia, desenvolveu bastante a sua vida noturna. Hoje, para sair de casa, o consumidor tem um rol de opções à escolha para comer e se divertir, às vezes em locais que sequer podem ser chamados de “restaurantes”. O que faz a diferença é a qualidade de vida que cada um quer para si. Mas se a procura por casas de alimentação visar exclusivamente uma conta barata, para economizar uns trocados, aí eu vou acreditar que para esses consumidores tanto faz uma cozinha asseada, um ambiente confortável e um cardápio saudável. E são eles que pouco se importam com a qualidade do que consomem e jamais saberão separar o joio do trigo.