No século IV depois de Cristo, um ato de bondade para evitar que 3 mulheres se prostituíssem deu origem ao Papai Noel, uma das maiores lendas da humanidade.
Anatolia é a parte asiática da Turquia contemporânea, na região do mar Negro. O seu lado oeste era conhecido por gregos e romanos como “Asia”, surgindo depois a “Asia Menor” para distinguir Anatolia do resto daquele grande continente. Naquela região, num lugar chamado Lycia, viveu Nicolau, um homem generoso e de grande compaixão, que foi monge, abade e chegou a bispo da Igreja Cristã de Mira. Tornado um dos santos mais populares do mundo, Nicolau se imortalizou através de um ato de bondade, para evitar que as três filhas de um homem pobre se entregassem à prostituição.
Em três ocasiões distintas, o bispo Nicolau jogou um saco de ouro pela janela da casa da família daquele homem, ajudando a cada uma de suas filhas a conseguirem um casamento honrado. Essa história, contada de geração em geração, atravessou o mundo e se consolidou como lenda, para criar o costume de dar presentes no dia 6 de dezembro, dia da festa de São Nicolau, padroeiro da Rússia, das crianças e dos navegantes, morto naquele 6 de dezembro de um ano incerto (345dC ou 352dC, segundo consta no volume XI de A Enciclopédia Católica).
A igreja somente passou a comemorar o nascimento de Cristo a partir do século IV desta era. O objetivo era se opor às festas pagãs iniciadas pelo imperador romano Aureliano, a partir do ano 274 d.C. Essas festas eram associadas à chegada do solstício de inverno no hemisfério norte (dia 21 de dezembro, em que o deslocamento do sol deixa as noites frias e mais longas). As festas eram uma homenagem ao sol e se denominavam “Sol Invencível” (Solis Invicti). O nascimento de Cristo, hoje definido no dia 25 de dezembro, foi uma forma encontrada pela igreja para se opor às festas de Aureliano.
“Já que Deus não podia fazer-se conhecer, decidiu fazer-se nascer”, segundo o pensamento de Paul Claudel (1868-1955), poeta, diplomata e dramaturgo francês, cujos principais trabalhos procuraram desnudar os mistérios católicos romanos.
Em 1087, os restos mortais de São Nicolau possivelmente foram levados para a cidade de Bari, a sudeste da Itália. Por isso, em algumas vezes é identificado como São Nicolau de Bari, mas não há nada que possa confirmar a transferência do seu corpo para aquela região do mar Adriático.
As variações em torno do seu nome são muitas. Passam por Sant Nikolaas, Sante Klaas e Santa Claus, sendo esta última forma utilizada nos Estados Unidos. Na Rússia é conhecido por Grandfather Frost (Vovô Geada), na Inglaterra por Father Christmas (Papai Natal) e na França por Pére Noël (Papai Noel). A palavra “Noel” significa “Natal”, e a tradição de se dar e receber presentes nesse período está muito mais associada à lenda de São Nicolau do que aos Três Reis Magos, que seguiram uma estrela, levaram presentes e reconheceram em Jesus o filho de Deus.
A história se disseminou pelo mundo. São Nicolau chegou aos Estados Unidos levado pelos colonos holandeses, que se instalaram em New Amsterdam e deram a ele a versão da chegada pelas chaminés e dos presentes deixados nas meias. A sua roupa vermelha, enfeitada de branco, com capas, tocas, cintos largos e botas pretas, provém da sua indumentária de bispo. As renas e o Pólo Norte provavelmente são lendas associadas à Scandinavia, a região extremo norte da Europa que envolve a Dinamarca, a Noruega e a Suécia. No século XIX, as imagens de São Nicolau como Papai Noel se popularizaram através das histórias de Washington Irving (primeiro homem de letras profissionalmente bem sucedido nos Estados Unidos, nascido em Nova York no ano de 1783), dos cartuns de Thomas Nast (cartunista político nascido em 1840 na Bavária, emigrado para os Estados Unidos com 6 anos de idade) e do famoso poema do novaiorquino Clement Moore “Uma Visita de São Nicolau”.
A exploração capitalista da representação caridosa de São Nicolau transformou o período de Natal em uma guerra de consumo. Em seu nome se vende, se compra, se ganha e se recebe. Nada mais impede que a lenda se perca com o passar dos anos. O importante não é acreditar ou deixar de acreditar em Papai Noel, mas valorizá-lo e reconhecer que as lendas não se fazem ao acaso. Papai Noel existiu (possivelmente era turco) e a sua bondade o transformou em um dos mais importantes personagens da infância. Difícil é desassociá-lo da miséria social e explicar às crianças de famílias pobres que o velhinho nem sempre vem.