Parece que enfim o litoral do Piauí está despertando a atenção de pessoas do mundo inteiro, além – claro – dos piauienses, especialmente da capital. Nas festas de final de ano, a fila de veículos na BR-343 parecia um engarrafamento comum às avenidas urbanas. O litoral foi literalmente invadido por gregos e troianos.
É difícil inclusive imaginar como pode caber tanta gente, que hospedagens os visitantes ocuparão, se hotéis, pensões, casas de família ou casas alugadas. Teria sido um bom momento para que os órgãos competentes realizassem pesquisas de receptivo, para medir esses comportamentos dos turistas: onde comem, do que gostam e não gostam, quanto gastam. Os resultados serviriam para balizar futuras ações e avaliar as condições de infra-estrutura.
Uma das praias mais procuradas foi, sem medo de errar, a da Barra Grande, no município de Cajueiro da Praia. O antigo povoado estava repleto de caras novas, carros cirulando, pousadas lotadas e bares apinhados de gente. Os moradores e empresários locais têm conseguido uma proeza invejável: manter a região em silêncio. Não se ouve carros de som, bares com som pelas alturas ou residências idem. O silêncio impera na Barra Grande, atrelado a casas simples, mas bem conservadas, pintadas em cores alegres, jardins bem cuidados e ruas limpas. Ruas, aliás, ainda em areia, mantendo apenas as avenidas principais em calçamento. Isso empresta um charme ao lugar, onde os visitantes transitam de pés descalços, bronzeados e comunicando-se nos mais diversos idiomas: alemão, francês, italiano, austríaco, inglês e até português! O gasto do turista entra direto nas caixas registradoras dos empreendimentos que mais se desenvolvem na Barra Grande: pousadas e restaurantes, decorados com bom gosto. À noite, os postes refletem iluminação com luminárias artesanais, tornando a noite agradável e aconchegante
Até aí, tudo bem. O lado triste é a falta de infra-estrutura ou a existência de uma infra-estrutura precária. No réveillon, a luz faltou por volta de 2 da manhã e só retornou 24 horas depois. Nesse meio tempo, além do transtorno da falta de luz, a água também se foi. Movida pela energia, a água provocou uma avalanche de desistências. Turistas fecharam suas contas nas pousadas e muitos que pretendiam ir à Barra Grande desistiram quando souberam da falta desses dois produtos que sustentam a sociedade. A coleta de lixo também é precária e ainda não há um Aterro Sanitário, o que faz com que muitos se atrevam a jogar o lixo nos arredores do povoado. Até a pescada amarela sumiu de lá, onde também não há policiamento (não se vê um policial nas ruas, embora haja baixa ou quase nula criminalidade), agências bancárias ou caixas eletrônicos, nem posto para abastecimento de combustível. Falta ainda sinalização adequada e informações turísticas. Os visitantes chegam à praça principal e ficam meio perdidos, sem saber por onde seguir. Observa-se também um pouco de improviso no atendimento aos clientes, especialmente nas pousadas e restaurantes. Com a praia lotada e a procura crescendo, há pousadas e restaurantes que fecham à segundas-feiras, não havendo escala de funcionários para evitar que algumas opções continuem fechadas aos turistas. Hospedagens funcionam 24 horas por dia e o fechamento em um dia da semana é incompreensível. Uma festa de réveillon promovida por uma delas teve um movimento abaixo do esperado. O preço de R$ 50,00 apenas para acesso afugentou os moradores locais, elitizando a procura.
O movimento em busca da praia da Barra Grande está crescendo verticalmente. Se não houver uma ação enérgica dos órgãos competentes, inclusive a prefeitura, que tem se esforçado em sinalizar investimentos, em pouco tempo estará inviabilizada. É ideia comum que em futuro próximo seja criado um grande estacionamento na entrada do povoado, evitando o trânsito de veículos por suas áreas urbanas, quando veículos autorizados seriam colocados à disposição dos visitantes para deixá-los mais próximos de seus destinos. Muito há ainda que ser feito, mas a vigilância atenta dos moradores e empresários é uma das armas fortes que a Barra Grande tem a seu favor. O carnaval, que se aproxima, será um termômetro.