Teresina deu um salto muito grande em relação aos avanços de sua gastronomia. Nos últimos oito anos, inúmeros restaurantes surgiram da noite para o dia e também desapareceram sem deixar vestígios. A população segue assistindo a esses aventureiros da alimentação, desejando que o próximo apresente um produto diferenciado, que satisfaça ao seu intrincado mercado consumidor.
Aventureiros porque não conseguem firmar-se no mercado por uma razão muito simples: não são profissionais. Muitos crêem que basta distribuir umas mesas por um salão improvisado, alguns até em garagens residenciais ou quintais arborizados, e colocarem velhas cozinheiras conhecidas para comandar um fogão. Não é bem assim. Como o mercado teresinense não se afina muito com exigências gastronômicas, a não ser em raras exceções, os cardápios dessas aventuras às vezes até que dão certo, mas outros fatores são esquecidos, primordiais que são, como por exemplo a arte de atender bem.
Atender bem não significa apenas ser cortês na hora de servir uma cerveja. É preciso que todo o ambiente seja convidativo e prazeroso, capaz de dar conforto, oferecer credibilidade, apresentar-se higienizado, com materiais de qualidade, asseio nas áreas de serviços, banheiros limpos e, claro, profissionais qualificados. O que vemos, no entanto, é uma proliferação de improvisos tristes, que afugentam não somente algumas cabeças de bom senso de nossa cidade, mas também, os seus visitantes, acostumados a frequentar restaurantes refinados nos grandes centros.
Durante os últimos oito anos, é claro que qualquer cego enxergaria os bons restaurantes que surgiram em Teresina. E bares também. Cada um com seus conceitos pessoais, firmando-se no mercado exatamente porque têm primado pelo profissionalismo. O improviso não tem encontrado ressonância, a não ser nesses de vida curta. O fato é que, em meio ao tiroteio de pratos disponíveis no mercado, estão aqueles restaurantes que realmente se instalaram para ficar. São os que pretendem oferecer a Teresina algo mais além de um simples punhado de arroz com feijão e carne. Querem explorar os alimentos para transformar a gastronomia em uma coisa prazerosa, mas até do que o ato de comer.
Nessa busca por uma gastronomia diferenciada encontram-se inúmeras vertentes. Algumas tendem para os aspectos típicos do paladar piauiense, oferecendo pratos que são característicos do Estado, como o capote, a galinha caipira, o arroz de Maria-Izabel ou a paçoca. Outros, por outro lado, buscam a gastronomia regionalizada, ou seja, aquela que sofre influência de outros regiões brasileiras, especialmente do Nordeste. Há ainda os que buscam pratos internacionais, especializando-se em cozinha francesa, italiana ou oriental. Por fim, vem surgindo e avançando aquela que os entendidos do assunto chamam de gastronomia contemporânea, implantada no Brasil pelo chef Laurent Suaudeau, discípulo do mestre francês Paul Bocuse.
A gastronomia contemporânea é, na verdade, uma cozinha experimental. Permite que os chefes estejam sempre inovando seus pratos, para evitar o mesmismo à mesa. Desse exemplo nasceu a essência do Favorito Bistrô em Teresina (Avenida Nossa de Fátima, 2616), um dos empreendimentos do empresário Paulo Tajra e seu filho mais querido. É lá que se pode observar o nascedouro de pratos sofisticados, que não deixam de permitir a inclusão de ingredientes locais em suas feituras. É esse, portanto, o ponto curioso da gastronomia contemporânea: uma pitada de iguaria local junta-se à tradição de pratos conhecidos no mundo inteiro.
Dessa mistura nasce, por exemplo, pratos como “Perna de Cordeiro Marinada no Vinho do Porto e acompanhada de Polenta Cremosa de Carne-de-Sol”. Veja que delícia. Um cordeiro, que é bem típico do Piauí, acompanhado de polenta de carne-de-sol, uma outra cozinha local. O vinho do Porto dá um toque especial ao sabor e mistura os costumes, para enriquecer o prato. O resultado é espetacular.
Outro exemplo é “Codorna Desossada e Recheada de Brócolis e Nozes com Arroz ao Molho Buriti”. Mais uma delícia. Dessa vez inclui-se na codorna o molho de uma fruta abundante nas áreas alagadas do Piauí, o buriti, que também faz um doce inigualável. Esses pratos são elaborados sob a supervisão do restaurateur Paulo Tajra, cuja visão profissional alcançou as mãos hábeis de chef Naim Santos, trazendo-o para comandar a cozinha do Favorito Bistrô. Naim, além de ter sido discípulo de Laurent, foi um dos poucos brasileiros a extrair uma das melhores colocações no concurso internacional Bocuse D’Or, que anualmente se realiza em Lyon, na França.
Fica, então, uma mensagem aos teresinenses, aos piauienses e a quem interessar possa: precisamos ativar o bom senso e saber escolher bem na hora de fazermos as refeições fora de casa. Afinal de contas, não existe mais espaço para improvisos e aporrinhações que nos perseguem em muitos bares e casas que se chamam de restaurantes, em uma cidade que está cada vez mais receptiva.