Considero um retrocesso certas atitudes políticas das nossas esquerdas, em especial os recentes xingamentos e outras agressões verbais dirigidas à blogueira Yanes Sanches, além da proibição de exibir um documentário sobre seu país, Cuba. O PT e seus coligados agiram como qualquer generalzinho, daqueles que promoveram o AI5 e outros anacronismos políticos. Qualquer militarzinho fechava uma entidade representativa de classe, proibia reuniões ou o lançamento de um livro, desde que, no entendimento deles, esses eventos representassem uma “ameaça à segurança nacional”. Como acontece ainda hoje em Cuba, certamente.
Acho que tanto as vaias como a repressão à blogueira cubana tentam esconder a ditadura interna do PT, a falta de um projeto global de NAÇÃO, bem como a visível falta de conteúdo dos seus militantes. Todos sabemos que o regime dos irmãos Castro está respirando com a ajuda de aparelhos. Salários em queda, nível crescente de prostituição e desemprego, por exemplo. A medicina, até então o setor âncora da eficiência governamental no campo das ações sociais, está em franca obsolescência não só pela falta de recursos para investimento em novas tecnologias, mas também pela dificuldade de reciclagem dos profissionais de medicina fora do país. Além do descontentamento pela falta das liberdades de expressão.
Não se pode classificar de “ato político” o espetáculo promovido pelo PT, PC do B, etc. Na verdade, todos perdemos uma oportunidade rara de participar de um verdadeiro encontro político com a blogueira Yanes Sanches, no qual viriam à tona questões atuais daquele país, a exemplo do comunismo cubano, a falta das liberdade de expressão e as prisões em larga escala no país, três dos principais pilares que, apesar das suas características explícitas, não conseguem solucionar os problemas sociais dos cubanos.
Testemunhamos pela televisão que o destemido senador Eduardo Suplicy ainda tentou conter a ira dos revolucionários petistas, convocando a todos para uma atitude mais racional e política de ouvirem e dialogarem com Yanes Sanches, mas o senador também foi alvo de uma vaia de proporções fluviais. Não me refiro a um senador qualquer, da mesma linha de montagem de Sarney ou Renan Calheiros. Estou me referindo a Eduardo Suplicy, membro do PT e uma das figuras mais proeminentes do Senado da República. Nem assim foi poupado.
Será mesmo que o PT e seus coligados lutaram pela democracia plena, pelas diversas formas de organização da sociedade civil e pela liberdade de expressão na época em que o Brasil esteve mergulhado num dos momentos mais críticos da sua história? Ou será que lutaram apenas pra ganhar a eleição presidencial e pela sua perpetuação no poder através dos mensalões? Já começo a duvidar da primeira hipótese.
A blogueira Yanes Sanches é uma jovem mulher maltratada pela vida, talvez em decorrência da incansável luta que deflagrou pela condução do seu país à plena democracia. Quando a via andando sem pressa aparente em meio à multidão de fotógrafos, tomava conta de mim uma curiosidade sem fim sobre as indagações que rondavam aquela frágil mulher, de rosto pálido e cansado. Quem sabe, talvez ela estivesse pensando: “Deus meu, na Bahia até parece que estou em Cuba”.