O turismo interno passou a ser o foco das atenções dos governantes. O Estado engaja-se em projetos para melhorar as vias de acesso e facilitar as visitações aos atrativos, enquanto os municípios procuram onde vai sobrar um dinheirinho para injetar em suas frágeis economias. E assim, o turismo interno piauiense vai procurando sobreviver.
A Rota das Águas e a Rota da Pedras foi um projeto que se iniciou por uma ação do SEBRAE, diversificando a rota que leva ao litoral do Piauí. Saindo de Teresina, o viajante pode seguir por dois caminhos: o roteiro das pedras, que inclui Pedro II e Sete Cidades, ou o roteiro das águas, que desvia pelos açudes de José de Freitas, os rios de Barras e as lagoas de Joaquim Pires e do Buriti. No final das contas, a distância é praticamente a mesma, se não fossem os buracos no trecho entre José de Freitas e Barras.
Pelo outro lado, a BR-343 está um brinco nunca visto antes. A estrada está bem sinalizado, com um asfalto de dar prazer. Um tapete, como costumamos nos referir. Vale a pena viajar ao litoral do Piauí, hoje em dia, considerando os grandes esforços feitos pelo governador Wellington Dias para botar moral na correção dos acessos. Já no litoral percebe-se que as boas intenções continuam, pois os acessos à Barra Grande, ao Macapá, por Parnaíba ou por Luís Correia, também estão de fazer inveja aos outros estados do Nordeste. Viaja-se bem.
Mas existe também uma parte problemática, para não acharmos que estamos indo muito bem em relação ao turismo interno. Muitas campanhas e peças promocionais foram criadas, enaltecendo os dois roteiros. Frases de efeito em cada porta de município foram anunciadas, oferecendo atrativos diferenciados. Mas a essência ainda é um trauma para quem viaja: os serviços.
Em nenhum trecho dos dois roteiros come-se bem, curte-se bem ou é-se bem atendido. Não um mal atendimento por ineficiência ou má vontade dos pequenos empresários, mas a falta de profissionalismo. Praticamente todos os profissionais que se espalham por bares, lanchonetes ou restaurantes nesses dois trechos são inexperientes e improvisados, além de servirem em ambientes inadequados, com mesas e cadeiras sem a menor condição de dar um conforto a mais a quem enfrenta as estradas em viagem. Banheiros, então, nem se fala. São geralmente imundos e fétidos, demonstrando que o pequeno empresário não está muito preocupado com esse aspecto fundamental não somente a quem viaja, mas aos clientes de uma maneira geral.
Vejamos alguns exemplos:
1) Na cidade de José de Freitas existe apenas uma padaria que vende, além de pães, algumas opções saudáveis, como um delicioso caldo de carne. Se outro lugar existe, alguém o esconde dos visitantes. Um atendimento melhor pode ser encontrado à beira do açude do Bezerro, mas a distância às vezes impede o viajante da Rota das Águas de desviar caminho.
2) Em Barras ocorre problema semelhante. Os bares e restaurantes da cidade estão melhor preparados para a rotina da cidade, esquecendo que em períodos de férias o fluxo aumenta e a necessidade de diversificação de cardápio é maior. Na cidade também não há indicações de locais onde existam atrativos turísticos, funcionando melhor a informação verbal colhida nas ruas. Um ponto de apoio para esticar as pernas, fazer as necessidades ou beliscar uma coisinha rápida não existe (ou não está divulgado).
3) A Lagoa de Joaquim Pires oferece apenas um bar amplo, que em finais de semana recebe um público de pelo menos 10 mil pessoas, segundo um dos atendentes, quando tem festa. Os tamboretes são desconfortáveis, as mesas precisam ser trocadas e o banheiro é sofrível. É uma palhoça cuja rusticidade casa bem com o ambiente que se mostra à frente: a lagoa a perder de vista.
4) A lagoa do Buriti não tem estrutura para receber visitantes. Os pequenos e pouquíssimos bares que se espalham servem apenas à população da região, que para ali se destina para pescar e tomar umas, ouvindo música alta em finais de semana. O acesso é difícil e desestimulante.
5) Na Cachoeira do Urubu, um garçom passou os dedos dentro de um copo que iria servir, para retirar a poeira. Depois, deu uma sopradinha para eliminar os últimos vestígios. E achou estranho quando o cliente disse que não aceitar um copo bafejado. Além disso, a troca de pratos é comum, enquanto não há preocupações com a higiene.
Portanto, muitas vezes as campanhas promocionais provocam interesse por determinado atrativo, mas esquecem de verificar como andam os bastidores do atendimento. É como colocar o carro adiante dos bois, ou seja: primeiro está vindo a divulgação, para só depois, muito depois, chegar a preocupação com o atendimento que vai induzir a boa imagem dos roteiros elaborados em mesas de quem desconhece o que planeja.
Como disse Jorge Luiz Borges: “quem ninguém se atreva a escrever subúrbio sem haver percorrido longamente por suas margens.