Passados oito anos desde que a Câmara Municipal lhe concedeu o título de Cidadão de Teresina, Cineas Santos finalmente o receberá neste 4 de julho, por entre louvações e aplausos, como expressão da justiça e do reconhecimento de que se faz merecedor. Cidadão de Teresina esse emigrante de São Raimundo Nonato já o é, de fato, há mais de quatro décadas, quando novamente se batizou no recanto em que as águas do Poti se misturam com as do Parnaíba; agora, como diria Jânio, sê-lo-á de direito, pelo que, mais do que o próprio, está de parabéns a cidade, por tão ilustre filho que adota.
Da competência do professor, dão testemunho os milhares de estudantes em cujas veias Cineas inoculou, para sempre, o vírus do amor aos livros e da paixão pela boa literatura. Quanto ao escritor, afirmo − e provo − que é excelente cronista, sem dever nada a medalhões como Rubem Braga, Fernando Sabino, Paulo Mendes Campos, Otto Lara Resende, Antônio Maria e Nélson Rodrigues. Se duvidar, vai ver que escreve melhor do que muitos deles, com a diferença, em desfavor, de que nunca teve editoras e imprensa a dar-lhe fama... “Apetrechado de sabença”, como gosta de dizer o poeta Jessier Quirino, Cineas Santos faz crônicas como quem respira: naturalmente, espontaneamente, como se não houvesse nada mais simples do que pôr no papel, com graça e beleza, o que lhe vai no pensamento e no coração.
Ser humano incomum, devia ser tombado pelo Ibama, como sobrevivente de uma espécie rara: a das pessoas que, pela generosidade humana e pela riqueza espiritual, tornam o mundo melhor e a vida mais bela. Quantos filhos são capazes da dedicação e do carinho com que Cineas deu dignidade e consolo aos últimos anos de vida de H. Dobal? Quantos piauienses não medem esforços para promover salões de livros e festivais de música, por acreditar quixotescamente na cultura como instrumento de promoção humana e de justiça social? Some-se, a esses valores, o Cineas Santos amigo, daqueles que o são por causa de tudo e apesar de nada, prontos para a crítica que descontenta e para a verdade que dói, sem que da sinceridade fraterna se guarde ressentimento ou rancor.
Assim, no Juízo Final, quando se quiser punir a capital piauiense pela insânia dos seus políticos e pela volúpia das suas mulheres, um anjo deterá a mão divina, prestes a se abater sobre a cidade:
─ Mas, Senhor, eles tornaram Cineas Santos cidadão de Teresina!
─ Por que não me disseram logo?! Reúnam o povo na Praça Pedro II que eu mesmo descerei para lhe anunciar a salvação...
Edmílson Caminha, especial para o Portal Piauí