Nidalvo Quinto *
Seria um equívoco diagnosticar os motivos do desinteresse atual pelos cursos de turismo sem antes conhecer as causas do crescimento recente do setor, o perfil das empresas que atuam na atividade turística e a expansão aleatória da oferta de cursos Brasil afora.
Desde meados da década de 90, com a implantação do Plano Real, observa-se certo crescimento da renda das famílias, seguido da descompressão da demanda e da melhoria do nível educacional dos extratos C e D da população. Simultaneamente a esse fenômeno, verificou-se o aumento da oferta dos meios de transporte, em especial o aéreo, e as facilitações comerciais criadas pelas agências de viagem. As transportadoras aéreas, terrestres e marítimas também entraram na disputa com preços promocionais e prazo, amparadas em campanhas na mídia sobre destinos, seus atributos, qualidade de infra-estrutura e serviços.
Da parte dos órgãos estaduais do turismo, em especial os do norte e nordeste, além dos investimentos na infra-estrutura e na capacitação das pessoas, o aperfeiçoamento metodológico das estatísticas e das pesquisas assegurou a integridade das informações sobre as relações de mercado. Esse banco de dados contribuiu para subsidiar o conteúdo das propagandas e das promoções, e aproximou as Universidades pela busca de informação.
Além disso, também nas Regiões Norte e Nordeste, ao contrário do Sudeste e do Sul, o primeiro e o segundo setores nunca ocuparam posição de liderança na composição dos PIB brasileiro, razão pela qual o turismo se destacava no ranking das expectativas de emprego e renda devido ao subdesenvolvimento que sempre castigou essas duas regiões.
Juntos, esses fatores passaram a despertar nos empresários o interesse por oportunidades de negócio na área da educação, a despeito de desconhecerem a demanda por cursos dessa natureza e, sobretudo, por ignorarem as empresas que atuam na área turística, cujo perfil negocial se concentra em micro e pequenas unidades, a maioria familiares. Excetuam-se, nesse caso, as companhias aéreas, os poucos hotéis de rede e aqueles nacionais voltados para o segmento de luxo anteriormente classificados de 5 e 4 estrelas, cujas chefias médias e intermediárias no geral eram ocupadas pelos profissionais “sênior” importados de outros pontos do país.
Baseados, portanto, no empirismo como fonte fidedigna do conhecimento, os empresários provocaram um boom desenfreado de Faculdades de Turismo por todos os cantos, algumas de qualidade duvidosa e outras nem tanto. Quanto ao mercado consumidor, surgia a oportunidade de realizar “o sonho da Universidade”, acompanhado da expectativa de emprego, renda e ascensão profissional. Mas, com o diploma na mão constataram a cruel realidade do mercado, traduzida pela incapacidade e falta de interesse de absorver o crescente exército de profissionais denominados de turismólogos.
Em meio a esse cenário de desolação e esperanças conspurcadas, não levou muito tempo para as Faculdades mergulharem num desempenho declinante de conseqüências fluviais, por conta não só da evasão e da inadimplência, mas também, e principalmente, pela queda vertiginosa da procura pelo Curso de Turismo.
Sem que tenha a pretensão de ser um oráculo do turismo, ao que me parece esse círculo está definitivamente encerrado, devendo ser substituído, provavelmente, pelo já existente curso de Guia de Turismo, cujo conteúdo deverá ser revisto e atualizado.
Se alguém tem talento para exercer as funções de Executivo do Turismo, sugiro cursar Administração, Economia ou qualquer outra faculdade, desde que não seja a de Turismo, sob pena de estacionar atrás do balcão de uma Companhia Aérea fazendo chek in e emitindo bilhete, ou como colaborador de um Agente de Viagem, vendendo pacotes ou operando o receptivo. Quem avisa amigo é.
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* Nidalvo Quinto dos Santos:
Aposentado, na condição de funcionário graduado do Governo do Estado da Bahia.
Cursou Administração de Empresas.
É pós-graduado com cursos de Elaboração de Projetos, Planejamento do Turismo e Marketing Turístico.
Ex Gerente de Planejamento da Bahiatursa.
Assessor Especial do Secretário da Cultura e Turismo da Bahia por oito anos.
Ex Diretor de Estudos Econômicos da Secretaria da Cultura e Turismo da Bahia.
Ex professor de TGT - Teoria Geral do Turismo.