Em meados da década de 80, os Órgãos Oficiais de Turismo do Nordeste reuniam-se através da Comissão de Turismo Integrado do Nordeste (CTI/NE), com o objetivo de promover a região e elevar a captação de fluxo. Havia, junto à equipe de dirigentes, um grupo de técnicos que dava suporte ao planejamento, elaborando e aperfeiçoando as estatísticas de Turismo e os seus indicadores, reflexos das pesquisas que cada Estado realizava para aferir os efeitos provocados pela receptividade dos visitantes e os seus impactos na economia, na sociedade e no espaço.
Com o passar dos anos, o grupo de técnicos foi sendo substituído e cada Órgão Oficial deu destinos diferentes aos números. É possível notar que poucos são os dirigentes de Turismo que se utilizam das estatísticas como embasamento de suas ações, um sinal claro de que as pesquisas e os levantamentos de indicadores hoteleiros estão numa espécie de banho-Maria.
Neste final de novembro de 2011, portanto quase 30 anos depois da formação do Grupo Técnico de Planejamento da CTI/NE, alguns de seus antigos integrantes decidiram se reunir para matar a saudade. Como muitos tomaram rumos diferentes, alguns inclusive abandonando a atividade turística, reuniram-se em Salvador apenas eu, que à época representava a PIEMTUR, Nidalvo Quinto dos Santos e Jorge Antônio, ambos ligados à BAHIATURSA. Nidalvo foi Gerente de Planejamento do então presidente Paulo Gaudenzi, enquanto Jorge Antonio era responsável pelos estudos econômicos que davam suporte e orientavam a gestão do órgão.
Um dos assuntos, embora despretensiosos, girou em torno da falência dos Cursos de Bacharelado em Turismo Brasil afora. Para espelhar o seu ponto de vista, Nidalvo Quinto preferiu esboçar um artigo intitulado “A diáspora dos estudantes de turismo”, publicado no site www.piaui.com.br. Segundo ele, o desinteresse pelos cursos passa primeiramente pelo conhecimento das causas do crescimento recente do setor, pelo perfil das empresas que atuam na atividade turística e pela expansão aleatória da oferta de cursos Brasil afora (ver www.piaui.com.br/turismo).
Nidalvo lembra o crescimento da renda das famílias em função do Plano Real, aliviando a dinâmica econômica do consumo, especialmente nas classes C e D, que também assistiram à melhoria de seus níveis educacionais. “Simultaneamente a esse fenômeno, diz ele, verificou-se o aumento da oferta dos meios de transporte, em especial o aéreo, e as facilitações comerciais criadas pelas agências de viagem”. Essa “descompressão” também resultou em melhor capacidade de uso dos aeroportos, com o aumento de passageiros em função das facilidades de pagamento e preços que competem inclusive com os transportes rodoviários.
Outra questão colocada entre os ex integrantes do corpo técnico da CTI/NE referiu-se à responsabilidade que os Órgãos Oficiais de Turismo tinham com a informação estatística. A Comissão era orientada tecnicamente com respaldo em pesquisas realizadas pela totalidade dos Estados nordestinos, mas isso se interrompeu com o passar dos anos. Hoje, poucos são os dirigentes que sabem usufruir desses resultados, para evitarem investimentos mal aplicados e seus efeitos maléficos, geridos apenas pelo senso político.
Tentou-se o aperfeiçoamento metodológico das estatísticas e das pesquisas, mas infelizmente não houve continuidade. No Piauí, por exemplo, raríssimos são os técnicos capazes de coletar dados e interpretá-los como subsídio a projetos ou ações. Se isso vem ocorrendo, está no âmbito da Secretaria de Planejamento, para onde migraram as responsabilidades sobre as pesquisas. Em todos esses anos, não acredito que tenha se formado uma consciência gerencial para a importância do dado estatístico ou dos indicadores gerados por pesquisas como norteadores de ações públicas ou privadas.
Investimentos empresariais na área da educação do turismo resultaram em uma preocupação maior com o lucro do que com o resultado pedagógico. Há Faculdade particular de Turismo, em Teresina, que trata o aluno como “cliente”, cuja preocupação é muito maior com o vil metal do que com o seu projeto pedagógico. Assim sendo, o crescimento do setor turístico passou a ser visto pelos empresários da educação como uma alternativa para elevar os seus lucros. Por outro lado, associados ao entusiasmo dos dirigentes de órgãos públicos, os empresários do setor turístico acabaram por contagiar a mente dos estudantes de segundo grau, ao abrirem à sociedade uma aparente oferta de vagas. Segundo o ex Gerente de Planejamento da BAHIATURSA, o empirismo foi muitas vezes a base do conhecimento empresarial, por isso “os empresários provocaram um boom desenfreado de Faculdades de Turismo por todos os cantos, algumas de qualidade duvidosa e outras nem tanto”. Acrescente-se a isso que o modelo de empresa turística é geralmente de administração familiar e de pequeno porte, o que não permite a inclusão de um profissional de nível superior que almeja um bom salário.
O resultado não poderia ser outro: a expectativa de emprego minou-se e, com o diploma na mão, muitos estudantes “constataram a cruel realidade do mercado, traduzida pela incapacidade e falta de interesse de absorver o crescente exército de profissionais denominados de turismólogos”, enfatiza Nidalvo.
Pela observação do comportamento do mercado, em relação ao cada vez mais tímido ingresso de novos alunos de Turismo nas faculdades, é de se esperar que em futuro muito próximo esses cursos se extingam e sejam substituídos por formações com maior aderência ao mercado. O exemplo m ais recente é o da Faculdade Estácio, que abriu vestibular para Gastronomia e Hotelaria em São Paulo. O grande problema é encontrar o aluno que leve a sério a profissão que abraçou e queira usar a faculdade como indutora do conhecimento.
Nossa conversa ao pé de uma mesa descontraída em Salvador encerrou com essa previsão nada otimista de Nidalvo Quinto: “Se alguém tem talento para exercer as funções de Executivo do Turismo, sugiro cursar Administração, Economia ou qualquer outra faculdade, desde que não seja a de Turismo, sob pena de estacionar atrás do balcão de uma Companhia Aérea fazendo chek in e emitindo bilhete, ou como colaborador de um Agente de Viagem, vendendo pacotes ou operando o receptivo”. Quem viver, verá!