Ludwig deixou marcas de sua passagem por Teresina, especialmente na homenagem que fez ao então Governador do Piauí, Matias Olímpio de Melo, na conclusão de seu “Tratado Histórico de Ludovico Schwennhagen”. Na lembrança dos teresinenses ficou a imagem de um “alemão” (Ludwig era austríaco) que ensinava história, gostava de beber cachaça nas horas vagas e vivia estudando arqueologia piauiense. O seu “Tratado” foi entregue ao governador em 1928.
Explicando a posição geográfica em que se encontravam inúmeras tribos indígenas, o professor Ludwig acreditava que as sete cidades era o centro da grande região cercada pelos rios Poti e Parnaíba, pelo litoral piauiense e pela serra da Ibiapaba. Por essa localização estratégica, ali se instalou a sede da Ordem e do Congresso dos povos Tupis. A afirmação parte da premissa de que as próprias formações rochosas de Sete Cidades foram dádivas da natureza, evitando a construção de uma “cidade” e distribuindo a sociedade indígena em seus salões, praças e ruas. Até hoje, inscrições rupestres garantem a passagem de índios e estrangeiros por Sete Cidades, numa demonstração de que em tempos remotos ali foi palco de grande movimentação humana,
Inscrições semelhantes foram encontradas em diversas regiões brasileiras, e no Piauí elas são marcantes. Referindo-se a letreiros encontrados na Serra dos Cariris Velhos, na Paraíba, Ludwig afirma que “exame químico dessa tinta revelou a mistura de óxido de ferro com um elemento gomoso vegetal (...) que resistiu ao tempo, com sua cor viva, ao sol e a chuva, durante milênios”. A cor avermelhada assemelha-se às encontradas no Piauí.
Fato curioso é a admissão de que essas inscrições foram feitas há milênios, pelas características de suas formas e composição química. “As inscrições brasileiras foram escritas por mercantes e mestres de obras de minas”, afirma Ludwig. “Foram comunicações deixadas pelas diversas expedições, para indicar o rumo das estradas, as distâncias dos lugares e a situação das minas”.
É com base nessas afirmações que o austríaco acreditava na influência dos estrangeiros sobre os indígenas, especialmente nos ensinamentos aos chefes tupi sobre o preparo das tintas. Segundo ele, um estudo cauteloso indicará nas inscrições as diferenças entre a escrita fenícia-egípcio e a indígena, que geralmente apresenta um toque humorístico. A constelação da influência fenícia sobre a região norte do Brasil parte, também, da nomenclatura utilizada para indicar rios, lugares ou divindades. Assim, por exemplo, é que foi instalada a cidade de Tutóia, no norte do Maranhão, cujo nome é a derivação de Tur, a metrópole dos fenícios, e Tróia, surgiu Tur-Tróia, que o tempo encarregou-se de derivar para Tutóia.
A chegada dos fenícios e a instalação de pontos de apoio são explicadas pela necessidade que eles tinham de conduzir para Europa e Ásia as riquezas que lhes eram solicitadas, porque eram bons comerciantes, inclusive as constantes compras egípcias. Nesse particular, os fenícios garantiram aos egípcios a foremaçõa de suas riquezas individuais, para prepararem-se para a reencarnação. Eles embalsamavam os corpos por creditar que a alma um dia voltaria a habitá-los, razão pela qual esperavam o grande dia com tranqüilidade, acumulando riquezas.
AS CONTRADIÇÕES
Em seu livro “História Universal”, Haddock Lobo diz o seguinte: “Com suas embarcações leves e resistentes, iam buscar (os fenícios), em praias distantes e desconhecidas dos demais povos asiáticos, artigos que depois vendiam sem o mínimo temor de concorrência”. Foi nessas buscas que eles se instalaram no norte do Brasil, especialmente no delta do rio Parnaíba, onde a penetração do interior era fácil.
Hadock Lobo diz mais adiante: “Ao falar da origem os antigos habitantes da América, mostrando que não tem nenhuma base sólida a crença que aqui estiveram expedicionários vindos do Egito, da Palestina ou do litoral da Síria, há uns 30 ou 40 séculos”. (A Síria era a terra dos Fenícios). Essa afirmação baseia-se em dois aspectos: o primeiro refere-se à navegação, que segundo o historiador não estava bastante adiantada para permitir a travessia do Atlântico; e o segundo fala sobre a inexistência de vestígios de possíveis passagens ou permanência daqueles povos em terras americanas. Se os fenícios aperfeiçoaram a navegação, através da descoberta da madeira ideal, como é o cedro do Líbano, por não ousariam enfrentar o Atlântico, se eles próprios eram destemidos e excelentes comerciantes? Acontece, porém, que os vestígios de sua passagem e permanência por essas bandas somente estão vindo à tona recentemente, com o avanço da arqueologia em todo o país. O próprio Haddock Lobo afirma: “Fatores diversos, entre os quais a abundância de certas madeiras próprias para navios (...) levaram os fenícios a aperfeiçoar a navegação, a ponte de conquistarem, no Mediterrâneo, uma supremacia que por bastante tempo conservaram”. É uma contradição não acreditar que os fenícios seriam capazes de cruzar o Atlântico...
AS EVIDÊNCIAS
O nome Tupi, que significa Filho de Tupã, foi dado pelos sacerdotes aos povos indígena que habitavam a antiga Atlântida. Eram sete tribos, que fugiram para outra grande ilha, a Caraíba (situada no Mar das Antilhas), em função do desmoronamento da Atlântida. Essa outra ilha teve o mesmo fim, fazendo com que os indígenas fugissem para a região da Venezuela. Segundo Ludwig, a capital Caracas vem da região de Car, trazida pelos sacerdotes que acompanhavam os fenícios.
Justifica-se a origem do nome Tupi pela língua dos Cários, Fenícios e Pelasgos, onde o substantivo Thus, Thur, Tus, Tur e Tu significa sacrifícios de devoção. O infinitivo do verbo sacrificar é, no fenício, tu-na, originando tupã. “A origem de Tupã, como nome de Deus onipotente, recua à religião monoteísta de Car”, afirma Ludwig.
Ao tomarem conhecimento da existência desses povos na Venezuela, os fenícios conseguiram levá-los para em seus navios para o norte do Brasil. Os Tupinambás e os Tabajaras contaram ao Padre Antonio Vieira que os povos tupis se dirigiram ao norte do Brasil pelo mar, vindos de um lugar que n~]ao existe mais. Os Tabajaras, que se consideravam o povo mais antigo do Brasil, habitavam a região que fica entre o rio Parnaíba e a serra da Ibiapaba.
O local para a ordem e Congresso dos povos Tupis foi batizado pelos piagas (pagés) de Piagui, de onde originou-se Piauhy. Geograficamente, o lugar era Sete Cidades. Para Ludwig, a palavra Piauí significa terra dos piagas, condenando a interpretação de que o nome provém do peixe piau, abundante nas águas do Rio Parnaíba.
GRUTAS E MISTÉRIOS
Nem a gruta de Ubajara escapou da análise polêmica de Schwennhagen. Para ele, a gruta não é obra da natureza, mas de escavações para a retirada de salitre, por um sistema de filtração artificial ainda hoje usado na Síria e na Ásia Menor. O salitre era largamente utilizado pelos egípcios para embalsamar os mortos. A crença na reencarnação era estimulada pela esperteza comercial dos fenícios, que retiravam o salitre das grutas do interior da Brasil.
Para Ludwig, o subterrâneo de Alto Alegre, no município de Piracuruca, não tem ligação com a gruta de Ubajara, como crêem os moradores da região. Na verdade, ele considera que o subterrâneo foi cavado por mãos humanas, para retirar pedras que na antiguidade serviam para enfeitar as imagens das divindades e os templos. Os fenícios levavam essas pedras, que eram as turmalinas azuis e os cristais transparentes, para as suas inúmeras oficinas de lapidação. É, talvez, com base nessa constatação histórica que o Sr. Aurélio, proprietário das terras onde fica o subterrâneo, realizou várias tentativas de penetrar fundo no buraco, há pouco mais de 40 anos.
O “Tratado...” foi reeditado com o título “Fenícios no Brasil”, com apresentação e notas de Moacir C. Lopes, que demonstra profundo conhecimento da obra do Professor e do próprio contexto em que ela se insere. Apesar de polêmico e de ter provocado inúmeras críticas contrárias, o Tratado de Ludovico Schwennhagen merece respeito, pela profundidade de suas pesquisas e pelo vasto rol de informações lúcidas da história universal, deixando para os amantes das coisas misteriosas da vida.