Dia desses, Joca Oeiras me mandou o seguinte e-mail: “Querido professor Cineas Santos: imagino que irá gostar de saber que a sua crônica No topo do mundo é um dos postados recordistas de acesso (16.277) no Portal do Sertão”. De pilhéria, respondi: vou acabar ficando famoso. Joca rebateu: “Mais famoso”. Incontinenti, fiz ver ao Joca que a “fama” a mim atribuída só me trouxe prejuízos e aborrecimentos. Para não parecer apenas rabugice de um senescente implicante, cito um exemplo.
No início do ano, fui procurado por um jovem professor que resolveu escrever sua dissertação de mestrado tendo como tema os livros infantis que publiquei. Respondi às perguntas que me fez, mostrei-lhe alguns textos ainda inéditos e deixei que a coisa seguisse o seu curso natural. Dias depois, o professor me mandou um e-mail muito surpreso com o que encontrou, digo, com o que não encontrou a meu respeito. Segundo ele, não existe nada sobre mim nos livros – antologias, manuais escolares, etc – publicados pelos corifeus da literatura piauienses. Como sempre recorro ao humor, afirmei: meu irmão, vai ver que efetivamente não existo; sou apenas um invenção de mim mesmo. O rapaz insistiu: “Professor a que se deve esse silêncio sobre sua obra”?
Vamos ver se consigo explicar: há, em Teresina, uma crença, mais ou menos generalizada, de que já sou “ muito espaçoso ”, “famoso e poderoso demais”. Assim sendo, qualquer “adubo” na minha raiz poderia me transformar numa espécie de “semideus” com poderes ilimitados. Por oportuno, vale lembrar que certo jornalista,ironicamente, só me chamava de “semideus”. Um dia, perdi a paciência e lhe disse: se você continuar com essas graçolas, posso lhe mostrar como procede um “semidiabo” . O moço entendeu o recado. O projeto deve ser o seguinte: “vamos jogar um manto de silêncio sobre o trabalho desse pretensioso e ele deixará de existir”. Parece que, até agora,a tática não funcionou. Mesmo ignorado pelos “doutores” da Chapada, meus livrinhos andam com as próprias pernas. Só um deles - O Menino que descobriu as palavras, editado pela Ática – já vendeu mais de sessenta mil (isso mesmo!) exemplares. É adotado em escolas de todo o país. Os outros estão a caminho.
Curiosamente, por minha conta e risco, editei todos os autores de expressão da literatura piauiense, de Da Costa e Silva a Elias Paz e Silva. Só coletâneas já publiquei quatro, com autores de todos os matizes. Não organizo antologias usando como critério o compadrio. Gente editada por mim faz de conta que não me conhece. Fazer o quê? Sem queixas ou mágoas, vou tocando o barco. Certa feita, um crítico da aldeia declarou: “O Cineas é tão vaidoso que não aceita nem elogios”. Respondi de bate-pronto: dependendo da procedência, dispenso. Não mudei de opinião.