Certa feira, um ex-aluno, hoje professor doutor em economia, convidou-me para conversar com seus alunos na UFPI. Relutei em aceitar o convite, mas diante da insistência do cidadão, acabei concordando. O tema era a panaceia do momento: empreendedorismo. Animado pelo jovem professor, os alunos me receberam com o mais vivo entusiasmo . Alguns pareciam acreditar que, finalmente, conversariam com alguém que conhecia os segredos do sucesso. Falei as obviedades de sempre e fechei minha arenga com a seguinte recomendação: se vocês pensam efetivamente em vencer na vida, façam tudo diferente do que fiz. Com um pouco de sorte, pode até dar certo. Hoje, eu não faria diferente. Decididamente, sou a pessoa menos indicada para fazer palestras “motivacionais”. Imprestável para as coisas rentáveis, nada tenho a ensinar sobre os sinuosos caminhos do sucesso.
Para não maçar meus três leitores, citarei apenas dois casos. Em 1976, quando a palavra ecologia ainda era encarada com desconfiança, juntei um punhado de amigos e fizemos um show-protesto – Cenas Piauienses: o Rio - no Theatro 4 de Setembro. O tema era o destino do rio Parnaíba. Fomos agraciados com o rótulo de “ecobobos”. No início da década de 1980, lançamos o Primeiro Manifesto Ecológico do Piauí, na Praça Pedro II. Fomos promovidos a “ecochatos”. Na companhia de Alcide Filho, Paulo Machado, Fernando Costa, Margarete Coelho e Rogério Newton, perambulei pelos sertões do Piauí conversando sobre práticas ambientais saudáveis e cultura brasileira. De repente, a ecologia entrou na pauta do dia, os espertalhões adonaram-se da causa e passaram a faturar com o tema. Gente que nunca moveu uma palha em favor do meio ambiente se deu bem. Peguei meu boné e saltei fora. Na política, não foi diferente: quando o PT do Piauí cabia numa Kombi e sobrava espaço para os tambores do Pizeca, foi convidado por um dos caciques do partido nascente a filiar-me à nova agremiação para lhe dar “visibilidade, crédito e respeitabilidade”. Num velho fusca verde-esperança, percorri parte do Piauí e Teresina inteira, conclamando os irmãos ingressarem num “partido onde valem o trabalho, a ética, a decência”. A gasolina era por minha conta. Quando PT começou a dar errado, digo, dar certo além da conta, peguei meu boné e vazei. Tem razão uma dileta amiga quando se refere a mim como “um animal inviável”.
Por que estou me lembrando disso agora? Bem, no domingo passado (dia 8), eu e um punhado de amigos fazíamos uma manifestação na Praça Marquês de Paranaguá, em defesa do verde de Teresina. Pintávamos troncos de árvores mortas. De repente, passa um ex-colega de faculdade, um colecionador de cargos e aposentadorias, para o carro, me abraço e pergunta: “Rapaz, quando é que você vai parar de fazer besteiras?” Respondi de bate-pronto: nunca. Se eu parar, corro o risco me de tornar alguém como você, o que efetivamente não me agrada. Rimos e cada um foi cuidar de sua vida. Na hora, lembrei-me da máxima do Edisom do Ministério de Nossa Senhora: “Cada um para o que nasce”. Nada mais verdadeiro.