Quando iniciei minha atividade no magistério, em 1970, não se ensinava literatura piauiense nas escolas de Teresina por absoluta falta de textos. Com um pouco de sorte, podia-se encontrar um exemplar de Ulisses entre o amor e a morte ( O. G.) ou Beira rio beira vida (Assis Brasil) na livraria do Nobre, a Dilertec. J. Miguel de Matos havia publicado uma pequena antologia poética – Caminheiros da sensibilidade – de circulação muito restrita. Além disso, nada.
Em 76, convidei o jovem poeta Paulo Machado para organizar uma coletânea de poemas de autores piauienses. Em poucos dias, o livro Ciranda, cuja capa foi colada com grude, circulava nas mãos dos estudantes. Vendemos toda a edição – 800 exemplares – na noite do lançamento. Um feito e tanto. Era o início de uma atividade que se estende até hoje. Ao longo desses anos, publicamos de Francisco Gil Castelo Branco a Elias Paz e Silva, ou seja, praticamente todos os autores piauienses de expressão. É escusado dizer – todo mundo sabe – que essa experiência prazerosa e desastrada só nos rendeu dívidas. A empresa que editava os autores piauienses – a Livraria e Editora Corisco – foi à falência em 2003. Num ritmo menos intenso, mas constante, continuamos a editar nossos autores pelo selo da Oficina da Palavra. Este ano, já editamos dois títulos e temos um terceiro no forno. Quando me perguntam se vale a pena, respondo com os versos de Fernando Pessoa, Tudo vale a pena, etc. Do ponto de vista financeiro, editar livros no Piauí é pouco menos que uma temeridade.
Em Teresina, há uma equação que não fecha: quando tínhamos apenas a Universidade Federal do Piauí, na capital, conseguíamos vender uma edição de mil exemplares em um ano; hoje, com universidades, institutos, faculdades e bodegas de vender ensino superior em cada esquina, já não se vendem 300. Explicar esse fenômeno negativo é boa matéria para uma dissertação de mestrado. Mas há suposições plausíveis: sem a presença das listas de livros nos vestibulares, a literatura piauiense deixou de figurar nos currículos das escolas. Por oportuno, vale lembrar
que a Constituição do Piauí – Art. 226 – estabelece a obrigatoriedade do ensino da literatura piauiense nas escolas públicas e privadas do estado. Letra morta.
Não seria exagero afirmar que, num curto espaço de tempo, autores do porte de Da Costa e Silva, Mário Faustino, H. Dobal, Assis Brasil, O. G. Rego de Carvalho, para citar apenas os mais famosos, estarão tão próximos dos estudantes do Piauí quanto a estrela Antares, que figura em nossa bandeira.
Há quem afirme que “literatura não enche barriga de ninguém”, o que é verdade. Mas a ausência de literatura deixa vazios na mente que, naturalmente, serão preenchidos com coisas menos nobres.