O Brasil está doente, muito doente, para ser mais preciso. E não estamos falando do surto de hidrofobia que grassou no país durante a última campanha eleitoral, um caso para estudo. Falamos de problemas bem mais complexos: o brasileiro está doente do corpo, da mente e do espírito. Se não,vejamos: em 2013, o Brasil superou os Estados Unidos em matéria de cirurgias plásticas.Por oportuno, vale lembrar que os EUA têm mais que o dobro da população do nosso país. Vale ressaltar também que as estatísticas disponíveis só registram os procedimentos cirúrgicos realizados em locais adequados por profissionais habilitados. Como se sabe, há açougueiros operando e matando gente em “clínicas” de garagem ou fundo de quintal. Um dado curioso: mais de 80% das cirurgias plásticas realizadas no Brasil têm função puramente estética: lipoaspiração, aplicação de botox, etc. Como se pode ver, o brasileiro não está satisfeito com o corpo que tem.
No que diz respeito à mente, a situação não é menos preocupante: o brasileiro já figura entre os maiores consumidores de ansiolíticos do mundo. Toma-se remédio para dormir, para acordar, para ficar aceso, para minimizar o estresse, para controlar a ansiedade, para conviver com os escândalos que pipocam a cada hora, sem perder o juízo de vez...
No plano espiritual, as coisas também andam complicadas: estamos entre os maiores consumidores de literatura de autoajuda do Planeta. Acrescente-se a isso a corrida em busca de igrejas, tendas, centros holísticos à procura de “cura espiritual” e coisas do gênero. Há curandeiros para todas as enfermidades do corpo e da alma. Entre esses guias iluminados, há os que fazem cirurgias sem bisturi e os que “curam” até gays de carteirinha. Não por acaso, até a Igreja Católica Apostólica Romana, refratária às práticas milagreiras, está investindo nas missas de “cura espiritual”. Percebeu que, se não usar o expediente das curas, perderá mais ovelhas de um rebanho disperso, indócil e confuso.
As coisas estão neste pé: dia desses, uma professora, com boa formação acadêmica, foi pegar os filhas na escola. De repente, encontrou uma velha conhecida que, sabendo estar a cidadã separada do marido, não se conteve: “Minha amiga, eu soube do seu infortúnio. Isso é obra do demônio que quer te levar à perdição. Mas não se preocupe: eu estou orando por vocês na igreja que frequento. Você e seu marido ainda vão se unir na comunhão do Senhor”. A jovem professora, mais acesa que farolete de vaga-lume, não se fez de rogada: “Por favor, nada contra o Senhor, mas me deixe cair na perdição: é o meu sonho de consumo”. E mais não disse porque a amiga já se afastara, recitando o vade retro, satanás.
Deixo aqui uma recomendação: se você ainda está suportando o dia a dia sem recorrer a cirurgias plásticas, ansiolíticos ou curas espirituais, convém consultar um especialista: você pode estar sofrendo de saúde plena, enfermidade rara, pouco conhecida, mas condenada,com veemência, pelos mercadores da morte. Cuidado!