Há 37 anos, juntei um punhado de amigos – Paulo Machado, Fernando Costa, Alcide Filho, Margarete Coelho e Rogério Newton – e meti-me numa empreitada extremamente ambiciosa: estabelecer uma ponte cultural entre Teresina e os municípios, notadamente os mais distantes, do Piauí. A proposta era bastante simples: ensinar, aprender, compartilhar, conviver. O projeto, além de ambicioso, era inviável, uma vez que não contávamos com a participação de nenhuma instituição que pudesse dar sustentabilidade à iniciativa. Partimos de Teresina, num fusquinha verde-sonho, com destino a Corrente. Fizemos Floriano,Oeiras e São Raimundo nonato, onde a gasolina acabou.O nome do projeto era bem bonito: Projeto Mão Dupla. A filosofia que o norteava, também: o saber e a beleza só se realizam plenamente quando compartilhados.
É escusado dizer que esse tipo de projeto deveria ser um programa de estado e não iniciativa de um punhado de sonhadores. Teresina, ontem como hoje, continua mais distante de Corrente, por exemplo, do que de Marte. Não podendo levar um grupo maior, eu e o poeta Paulo Machado continuamos a perambular pelo interior do Piauí, ministrando cursos de literatura piauiense. A semente do projeto permanecia viva.
Na década de 1980, ampliamos a caravana e começamos tudo novamente. Percorremos o Piauí inteiro, de Parnaíba a Guaribas, levando oficinas de violão, flauta doce, canto coral, dança, teatro, artes plásticas, noções de ética e ecologia para os alunos, e aulas de português, literatura e história e geografia do Piauí para os professores. Entre os caravaneiros, figuravam intelectuais do porte de H. Dobal, R. N.Monteiro de Santana e Fonseca Neto, para citar apenas três. Em 1997, em Parnaíba, o prof. Fernando Ferraz propôs um nome novo pra o projeto: A CARA ALEGRE DO PIAUÍ. Para nos convencer, usou um argumento irrefutável: “Ao longo dos séculos, o Piauí mostrou sempre a cara pobre, feia e sofrida. O máximo que conseguiu foi a piedade de alguns e o escárnio de outros. Chegou a hora de mostrarmos a face luminosa que temos, a cara alegre da nossa cultura”. A filosofia do projeto permaneceu inalterada.
Agora, com alguns remanescente do grupo antigo e muita gente nova, o Cara Alegre chega a Teresina onde vai atuar, por algum tempo, nas escolas municipais da zona rural da cidade. Nessa nova empreitada, estamos contando com o apoio do Ministério Público do Trabalho (PI), da Prefeitura de Teresina, do ICC, do Grupo Estampido e, naturalmente, do Cara Alegre. Como vamos atuar apenas nas escolas da rede municipal, passamos a usar um rótulo mais atraente aos olhos da molecada: Lanche Livro. Fizemos a primeira edição no sábado (dia 22) na Escola Deoclécio de Carvalho, no povoado Coroatá. A estreia não poderia ter sido mais animadora: uma festa que, seguramente, ficará na memória de alunos e professores daquela escola. Se nos perguntassem se o projeto pode sofrer solução de continuidade, Luana Miranda, uma das coordenadoras do projeto, diria sorrindo: “não,nunca jamais”!