É provável que os inventores da internet tivessem consciência da revolução que deflagrariam em matéria de comunicação de massa. É improvável, contudo, que suspeitassem que a extraordinária ferramenta concebida por eles pudesse converter-se numa espécie de escoadouro do “lixo imaterial”(?) produzido pela civilização ocidental. Na internet, é possível encontrar tudo: de passaporte para o céu a pornografia escancarada. A praga rogada por Andy Wharol tornou-se realidade: hoje, cada um de nós pode, enfim, reivindicar os 15 minutos de fama “a que tem direito”. Bizarrice tornou-se sinônimo de sucesso. Vale tudo.
Antes que alguém estrile, uma confissão: internauta que mal sabe enviar um e-mail, não tenho qualquer autoridade para discutir assunto de tamanha relevância. Assim sendo, ninguém precisa me levar a sério. Sou apenas uma réplica daquele bobo da aldeia que atirava pedras ao latido do cão que o incomodava na tentativa de atingir o dono do animal. Para que se tenha uma ideia de minha incompetência, ainda nem aprendi a kakarejar no face.
Mas vamos ao que interessa: das mensagens que me remetem, não contando as correntes milagrosas, 90% não passam de lixo, que deleto sem ler. Basta conferir a procedência. Mas eis que, na semana passada, recebo um e-mail de um cidadão respeitável, homem público, com robusta folha de serviços prestados aos teresinenses. O nome do trem: “Sequestro na China”. Julguei tratar-se de uma dessas piadinhas sem graça e sem maiores consequências. Abri e, para minha surpresa, vi uma sequência de cinco fotos: na primeira, um suposto sequestrador, na janela de um edifício, aparenta segurar uma vítima. Na segunda, aparece um “negociador” que, sem trocar uma palavra com o “bandido”, saca uma pistola automática e dispara. As três últimas mostram o infeliz atingido, caindo e morto na rua. Até aí, nada de extraordinário: na China, o estado executa milhares de “criminosos” por ano, e os parentes dos executados ainda são obrigados a pagar o valor da bala. O pior estava por vir.
Vejam o texto que acompanhava as fotos: “No Brasil, a rua seria fechada com 25 viaturas, 60 PMS despreparados, as negociações durariam 36 horas, junto com toda a imprensa, direitos humanos para bandidos, o preso se entregaria como herói, custaria milhões para ter um julgamento, cama, comida e boa vida na cadeia por muitos anos, pagos por nós. Entendeu por quê os produtos chineses são mais baratos que os nossos?”
No primeiro momento, pensei tratar-se de humor negro ou escatológico. Não era. Nem o mais ordinário dos nossos humoristas conceberia algo tão infame. Desacorçoado, desliguei o computador e comecei a pensar em reabilitar a minha velha máquina de escrever, uma “Torpedo - 200”, companheira de muitas jornadas. Decididamente, o inferno é o limite.