O corpo do escritor O. G. Rego de Carvalho ainda jazia insepulto e, nas panelinhas literárias, já fervilhavam indagações sobre quem seria o “herdeiro” da cadeira 6,até então ocupada por ele, na Academia Piauiense de letras. Um jornalista da aldeia,por sua conta e risco, resolveu incluir-me entre os postulantes à cadeira vazia. Não sei se o fez por desinformação ou como uma espécie de balão para atiçar a disputa. De uma forma ou de outra, perdeu tempo e desinformou os leitores. Não sou candidato a nada, menos ainda ao título de imortal. Sou, como diria um amigo irreverente, apenas um animal morrente...
Quando do silêncio de H. Dobal, em 2008, houve quem afirmasse que, por ser amigo do poeta, eu deveria “herdar-lhe” a cadeira. Saí da disputa sem jamais ter entrado nela. De uma vez por todas, aviso aos navegantes: não pretendo ocupar cadeira alguma.
Embora eu não deva satisfação a ninguém, deixo aqui uma explicação necessária: não sou, como acreditam alguns, um “antiacadêmico” nem tampouco tenho desprezo por academias, sejam elas de letras, sejam de ginástica. Simplesmente não tenho o perfil de “imortal”. Vejamos: o que produzi em matéria de literatura? Nada, absolutamente nada. Acidentalmente, cometo um ou outro poema e, com alguma regularidade, escrevo arremedos de crônicas que se publicam na imprensa piauiense. Convenhamos que é muito pouco para aspirar à imortalidade. Não bastasse isso, não tenho a menor vocação para a chamada “vida acadêmica”. Acreditem: contento-me com o título que eu mesmo me atribuí, o de camelô da boa literatura produzida pelos outros. Como professor, editor, produtor cultural, tenho feito isso ao longo da vida, com enorme alegria.
Seria extrema vaidade de minha parte concorrer com escritores que efetivamente fazem “vida literária” e precisam de títulos para enriquecer seus currículos. Honestamente, para quem nasceu no sertão do Caracol onde não havia água potável nem livros, continuar meio vivo é pouco menos que a glória. Não sou e jamais serei um imortal. Sou um sobrevivente.
Certa feita, o prof. A. Tito Filho fez um comentário sobre um livrinho meu, acrescentando no final: “Se não se deixar levar por vaidades tolas, poderá tornar-se um escritor”. Limitei-me a agradecer-lhe o carinho pelo comentário, mas fiz questão de ressaltar: Mestre, não vos inquieteis: a minha vaidade cabe em mim. Continua cabendo.