Não vos inquieteis, irmãos: não vou enaltecer nem condenar Neymar pelo que fez ou deixou de fazer em campo. Estou escrevendo este arremedo de crônica na noite de domingo (29/06), bem antes do jogo contra a Colômbia e, qualquer que seja o resultado, vale o que está escrito. O que me proponho a discutir é outra coisa: precisamos, com a maior urgência, encontrar um sósia para o jogador mais festejado da seleção mais cara do mundo.
Por quê? Acompanhem-me: enganam-se os que acreditam que vida de jogador de futebol é moleza, luxo e glamour. A rotina é estafante (palavrinha antiga): concentração, treino, jogo, viagens, treino, jogo, concentração, viagens... Uma ciranda de tirar o fôlego. Acrescente-se a isso o estresse provocado pelas cobranças, pelas incertezas, pela insegurança que morde os calcanhares da molecada. Em nenhuma outra profissão, a distância entre céu e inferno é tão curta. Uma fração de segundo pode determinar o destino de um jogador. E nem vamos falar das mordidas, que isso é algo inusual, como diria o poeta Salgado Maranhão.
Para repetir o jargão do futebolês, “Neymar é um jogador diferenciado”, traduzindo para a linguagem coloquial: é alguém capaz de fazer a diferença. Até aí, nada de extraordinário: outras seleções têm problemas idênticos No caso da seleção brasileira, se Neymar não desempenhar o esperado papel de sol, os outros “astros” se transformam em simples meteoros, isto é, trambolhos que vagam a esmo, caindo, às vezes, onde não deveriam cair.
Bem, é aí que está o busílis (palavra infame): no time, tudo depende do garoto de pernas finas e penteados exóticos. Neymar não pode errar, não pode falhar, não pode deixar de fazer o que se espera dele. Tudo estaria bem fosse ele apenas jogador de futebol, um dos mais bem pagos do mundo. O problema é que o craque se transformou em garoto-propaganda de shopping: está anunciando tudo, de cueca sexy a shampoo para cadelas de madames. Os espertalhões descobriram que a imagem do Neymar se ajusta a qualquer produto e tem um poder de sedução inigualável. É certo que,no universo em que orbita, há outras estrelas de real grandeza como Messi e Cristiano Ronaldo, para citar apenas as mais reluzentes. Mas nenhum dos dois é tão solicitado, tão assediado, tão exigido.
Agora, ponderem: gravar um comercial, por mais simples que seja, requer tempo, deslocamentos, ensaios, maquilagem, figurino, etc. Mesmo para atores profissionais, é um trabalho exaustivo. Imagine o tempo que o Neymar deve levar para decorar um texto, exibir um sorriso convincente ou executar uma jogada para as câmaras... Eu não hesitaria em afirmar que, hoje, o camisa 10 da seleção passa mais tempo nos estúdios do que nos campos de futebol. Isso pode fazer um bem enorme às finanças do garoto prodígio; ao desempenho dele em campo, não. Pensam que é tudo? Ainda há as entrevistas, as sessões de autógrafos, o assédio das menininhas alucinadas e, para completar a dose, a obrigação de administrar os caprichos da Bruna Marquezine. É trabalho para Hércules nenhum botar defeito. Por estas razões, é que, em nome dos que amam o futebol, deixo aqui o apelo patético: arranjem um sósia para fazer, fora dos gramados, o que Neymar sabe e pode fazer dentro deles. Nada além.