Em mais de uma oportunidade, João Cláudio Moreno afirmou: “O Piauí vem sendo vítima de bulling há mais de 300 anos”. Exagero à parte, o humorista tem razão: quando se quer um exemplo de pobre, feio ou troncho, o Piauí é logo ali. Os piadistas sem talento já perceberam que, para arrancar gargalhadas dos parvos, basta contar uma anedota insossa tendo como cenário o nosso estado. Segundo consta (não acompanho ), em “Cheias de Charme”, a “anta” da novela é uma doméstica piauiense, objeto da chacota de todos. Pode-se argumentar que “ninguém leva aquilo a sério” ou, no jargão popular, pimenta no * do outro é refresco...
Por oportuno, cito aqui um caso que testemunhei. Quando se realizava a 11ª edição do Salão de Humor do Piauí, procurei uma jornalista amiga que, à época, era correspondente de um dos jornalões do sudeste. Pedi-lhe que enviasse matérias sobre o Salão que, entre os convidados, tinha o Rubem Grilo, um dos mais famosos xilogravuristas brasileiros. A cidadã me disse que, todos os dias, remetia matérias sobre o evento. Diante da minha incredulidade, pediu-me absoluta discrição, tirou da pasta a cópia de um fax, assinado pelo editor do jornal, onde se lia: “Mande matéria sobre mulheres esquálidas, crianças comendo calangos, fome, miséria!!!”, com as três exclamações cravadas no final da recomendação. Estava explicado: da periferia do país só se poderia esperar miséria. Nada além.
Por que falo disso agora se até as pedras têm conhecimento dessa realidade? Bem, no dia 29 de junho, no Globo Repórter, assisti a uma reportagem sobre as festas juninas no nordeste. Pela primeira vez na vida, vi Teresina mostrada com uma cara bonita, festiva, luminosa. De todas as manifestações exibidas na telinha, a nossa foi a mais bela. Mestre Aurélio, João Cláudio e o pequeno Isac, com engenho e arte, encarregaram-se de mostrar a face luminosa da nossa gente. Um show de competência. Eu sei que, em outras oportunidades, já foram mostradas imagens belíssimas do Delta do Parnaíba, da Serra da Capivara, das Sete Cidades, etc. Meus irmãos, isso é Natureza, equivale dizer: em nada contribuímos para que tais belezas existam. O que a Globo mostrou agora - a Orquestra Sinfônica de Teresina, a “Cantata Gonzaguiana”, a música do Isac - é Cultura, ou seja, é algo que criamos com trabalho e talento. Não sei quanto o governo pagou ( se é que pagou) para que a matéria fosse levada ao ar. Se efetivamente pagou, fez um belo investimento. Da experiência fica uma lição: se quisermos tirar o Piauí do anedotário nacional, basta investir maciçamente em educação e cultura. Precisamos melhorar a imagem do Piauí aqui mesmo; o mais virá por acréscimo. A minúscula Cocal dos Alves e o pequeno Isac demonstraram que isso é possível e desejável. Estamos esperando o quê?