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O Salão resiste
Com a autoridade de quem passou a vida inteira fazendo o que de melhor se produziu em matéria de humor no Brasil, Millôr Fernandes afirmava: “O humor é a quinta-essência da arte”. Não era apenas mais uma tirada genial do filósofo do Meyer; é a mais legítima expressão da verdade. Fazer rir é tarefa das mais nobres e, acima de tudo, das mais complicadas, principalmente num país onde não faltam motivos para nos fazer chorar. Curiosamente, fazemos humor até com as pequenas e grandes mazelas que nos afligem.
Foi assim que, em plena ditadura militar, numa mesa de bar, José Elias Arêa Leão, Kenard Kruel e Albert Piauí resolveram criar o Salão de Humor do Piauí. Para muitos, “apenas uma piada”. Por que um salão de humor no Piauí se já existia o de Piracicaba? A resposta não poderia ser mais óbvia: porque o de lá não era nosso e poucos dos nossos poderiam visitá-lo. A ideia foi imediatamente encampada por Lapi, que se tornou uma espécie de “embaixador do Salão” no eixo Rio-São Paulo. Em curtíssimo espaço de tempo, os teresinenses adonaram-se do Salão que se tornou o xodó da cidade. Nenhum outro evento na área da cultura conseguia atrair tanta gente. Mais que uma simples exposição de desenhos de humor, o Salão de Humor do Piauí tornou-se uma mostra significativa da cultura piauiense. Da culinária ao teatro, todas as manifestações culturais foram contempladas. Em matéria de diversidade, o nosso era imbatível.
Por aqui passaram todos os grandes humoristas brasileiros, de Millôr a Borjalo, os irmãos Caruso, Ziraldo, Jaguar e “os filhotes do Pasquim”, como diria Dodó Macedo. Tornou-se um salão internacional , atraindo desenhistas até do Cazaquistão. Em média, 500 trabalhos eram enviados ao Piauí, o que tornava o trabalho de seleção extremamente complicado. Com o tempo, por razões as mais diversas, o Salão Internacional de Humor do Piauí foi definhando, perdendo importância. Na 25ª edição, que se esperava uma festa extraordinária, já não passava de uma caricatura do que fora.Tornou-se apenas um salão como tantos outros. A despeito disso, ainda pulsa, resiste, sobrevive a duras penas. Nesta edição, a 29ª, entre as poucas atrações, figura uma belíssima exposição de Jota A, o mais premiado dos cartunistas brasileiros. Em boa hora, os organizadores do evento homenagearam Nonato Oliveira, uma referência nas artes plásticas do Piauí. É fácil criticá-lo, apontar erros, mas isso em nada contribui para melhorá-lo. Precisamos revitalizá-lo e devolver-lhe o brilho que o caracterizava. Mesmo debilitado, o Salão continua a merecer o carinho dos piauienses. Longa vida ao Salão do povo do Piauí.
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