Na semana passada, uma ilustre jornalista, depois de elogiar o Salão do Livro do Piauí, perguntou-me qual era a “receita de sucesso do SALIPI”. Respondi de bate-pronto: o “sucesso” do SALIPI lembra um pouco o conteúdo do soneto “Mal Secreto”. O brilho que o público vê não traduz a realidade vivida pelo Salão, sempre às voltas com problemas financeiros, desde a primeira edição.
Entendam as dimensões do problema: criado em 2003, o Salão do livro do Piauí poderia ter morrido no nascedouro, sem choro e nem vela. Sem nenhuma instituição que o agasalhasse, sem recursos financeiros que lhe dessem suporte, contando apenas com a vontade e o entusiasmo de 4 professores pobres, a empreitada tinha tudo para não vingar. Para surpresa de todos, o público compareceu maciçamente ao Salão e demonstrou o quanto necessitava de um evento como aquele. O Estado e a Prefeitura de Teresina marcaram presença, garantindo o mínimo para que o SALIPI se realizasse. Terminada a festa, sobraram dívidas que nos tiraram o sono por alguns meses.
Para tentar viabilizar o SALIPI, criou-se a Fundação Quixote ( 2004), instituição sem fins lucrativos que, em tese, teria mais facilidade para celebrar convênios com entes públicos e empresas privadas. Outro tiro no pé: as empresas privadas não apostam um centavo em livro, produto estranho ao cardápio da maioria dos brasileiros. Sem ter a quem recorrer, a Fundação Quixote foi bater à porta do Governo do Estado e da Prefeitura de Teresina. Os recursos disponibilizados sempre foram insuficientes, mas garantiam o mínimo para que a festa do livro permanecesse viva.
Por cinco anos, estive à frente da Fundação Quixote e posso lhes assegurar que foi uma experiência que não pretendo repetir. A cada ano, o SALIPI precisava apresentar novidades para não cair na mesmice. Convidar nomes de expressão nacional, atrair mais editoras, promover shows musicais,tudo isso implica custos financeiros elevados. Enquanto as despesas cresciam, as receitas permaneciam as mesmas. As contas não fechavam nunca. Com razão, você deve estar se perguntando: e por que não pararam antes? Por uma razão bem simples: os professores e os estudantes do Piauí, notadamente os de Teresina, precisam do SALIPI, oxigênio para a inteligência de todos.
Cansado e desacorçoado, passei o bastão o prof. Luiz Romero e fui “promovido” a colaborador voluntário. Como técnico que, um dia, foi jogador de futebol, passei a sofrer à margem do campo. Sofrer na companhia de um punhado de voluntários que sempre deram sangue para que o SALIPI continuasse respirando. Por oportuno, vale lembrar: em nenhum lugar do Brasil bienais, feiras ou salões de livros se realizam sem o efetivo apoio do estados e dos municípios onde acontecem
Este ano, segundo fui informado pelos diretores da Fundação Quixote, o SALIPI já não tem como certas nem as parcerias com o Estado e com a Prefeitura. Na corda bamba, o evento, que já foi considerado “o mais importante da cultura piauiense”, pode simplesmente não se realizar. Não faltará quem diga: o mundo não vai acabar se o SALIPI não acontecer, o que é verdade. Como é também verdade que, sem o Salão, o universo dos alunos e professores piauienses ficará um pouquinho mais pobre. Nada além.