Claude Levi-Strauss foi um dos mais geniais cientistas do século XX. Nasceu em 1908 e faleceu alguns dias antes de completar 101 anos, em 2009. Era francês e foi um dos primeiros professores da USP. Seu trabalho como antropólogo mudou bastante a maneira como o mundo ocidental olha a si mesmo e a outras culturas. Não é tarefa simples se conseguir tal proeza. Raros pesquisadores fizeram isso ao longo dos milênios, ou seja, fazer com que as pessoas mudem sua maneira de encarar fatos e coisas.
A contribuição desse pesquisador para os estudos literários é de uma importância imensurável. Sua obra, sobretudo a Antropologia Estrutural, inaugurou uma nova maneira de se compreender textos ficcionais.
Numa de suas últimas entrevistas antes de morrer, Levi-Strauss disse que o mundo atual, com seus 7 bilhões de habitantes, não era mais o seu mundo. Afirmou ainda que, no começo do século XX, o mundo tinha 2 bilhões de habitantes. Sentia-se, nessa entrevista, uma certa melancolia do pesquisador em virtude de o planeta estar tão populoso, percebia-se que ele nutria uma certa saudade do mundo das primeiras décadas do século XX.
A lembrança dessa entrevista me vem a propósito não exatamente do problema da superpopulação, mas de algo próximo a ela, mais exatamente ao fato de o Brasil ter quase 200 milhões de habitantes e de nós, brasileiros, estarmos começando a sentir isso na pele. Com efeito, hoje, a qualquer lugar a que se vá neste país, está lotado de gente. Rodoviárias, aeroportos, hospitais , estradas, ruas, estádios, escolas, praias... Por conta disso e do aumento do poder aquisitivo das pessoas, que são apaixonadas por carros(o automóvel é o dono do homem, segundo Paulo Mendes Campos), o trânsito em nossas cidades está virando um inferno. O de Teresina, então, que é uma cidade quente, parece querer nos mostrar que o inferno é aqui mesmo.
Ainda por conta do aumento do poder de compra do brasileiro, surgiu uma figura que tem, não se sabe por quê, irritado muita gente nos aeroportos e aviões: o turista. São tantos, que um colunista da Folha de S. Paulo chegou a caracterizá-los como uma verdadeira praga. Em Nova York, antes da crise, chegou a se fazer uma campanha em que se pedia que, em restaurantes e lojas, se evitasse turista. Hoje, eles são muito bem aceitos na Big Apple.
Tudo isso nos leva a algumas questões dolorosas. As pessoas devem continuar se reproduzindo e consumindo desordenadamente? Se a metade dos chineses e dos hindus decidirem, cada um, ter um carro, como fica a poluição? Quem deve decidir se uma pessoa deve se reproduzir e ter um carro?
São questões complexas e de dificílima solução, principalmente num mundo que não é mais o de Levi-Strauss.