O gigante que escrevia

                Fluência, imensa bagagem cultural e uma obra literária qualitativa e quantitativamente grande fazem de Victor Hugo um gigante da literatura universal. No mundo todo, raros escritores têm essas três qualidades.

                A primeira delas, a fluência, só se consegue através de muita prática do ato de escrever, de muita escrita diária. Quando um escritor tem essa disciplina diária, ou quase diária, seu texto adquire uma clareza e uma objetividade tão inequívocas, que o principal resultado é um texto fluente cuja leitura agrada, instrui, diverte, emociona. Victor Hugo tem tudo isso em sua obra cuja grandeza quantitativa e qualitativa é inegável. Romances como O Corcunda de Notre-Dame e Os Miseráveis, já adaptados para outras formas de arte como cinema e teatro, ratificam isso.  Dele, li recentemente O Homem Que Ri, romance de 730 páginas, dividido em 2 volumes, que somente são encontrados em sebos. O mais recente é de 1954, publicado pela Livraria Progresso Editora, de Salvador – Bahia.

                Na sociedade de imagens eletrônicas em que vivemos hoje, a presença desse romance hugoano se efetiva através do Coringa, o eterno vilão e inimigo do Batman em filmes e quadrinhos, inspirado no personagem central de O Homem Que Ri. Ele é o próprio homem que ri. Mas existe uma grande diferença entre os dois personagens. Enquanto Coringa é um vilão, Gwynplaine ( nome do personagem central no livro ) é um comediante, um saltimbanco, e uma pessoa decente. Sua história é triste e pode nos levar à emoção que dá nó na garganta.

                Impressionante nesse romance, que se passa na Inglaterra entre os séculos XVII e XVIII, é a erudição do autor, que faz um retrato amargo da aristocracia inglesa, principalmente dos lordes. Quanta desigualdade social! Quanta arrogância! Quanta indiferença pelo povo! Nunca vi pessoas tão desumanamente elitistas como esses lordes ingleses do século XVII ( ainda hoje são assim? ). Mas Victor Hugo bate neles sem dó nem piedade e nos dá um amplo  painel da Inglaterra da época, sua aristocracia, seu cruel sistema penal, os abusivos privilégios de classe, além de ruas, portos, o rio Tâmisa, o povo...

                O mais interessante ainda é fundir tudo isso com uma belíssima e trágica história de amor, como a que temos em O Homem Que Ri. Só mesmo um gigante que escrevia para conseguir tal proeza.

             Vale a pena ler esse grande romance de Victor Hugo, caro leitor. Eu o recomendo. O único problema é encontrá-lo. Mas, quem sabe?, se deres um pesquisada na web, talvez o encontres. Sei que é uma sugestão bizarra! 730 páginas! Mas é isso mesmo! O bom é difícil!

W. Ramos