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Chegando

            Era um show de uma banda de forró. Não sei se era o Calcinha Preta, se os Canários do Reino, se o Mastruz com Leite. Ou alguma outra. Sei que foi lá no Atlantic City, mas onde aconteceu a maior desgraça da minha vida, foi na Frei Serafim. Não gosto nem de lembrar. É melhor mudar de assunto.

            - Não, Renato! Não pára, não! Conta!

            - Bem, a coisa toda começou quando eu estava a 20 km/h ali em frente à Novaterra. Veja bem, ali o trânsito já estava engarrafado. Na minha frente, uns caras num Fiat Uno, com o som na maior das alturas, todos muito alegres, fortes, jovens, carecas. Ou melhor, de cabeça raspada. Mas o pior mesmo era o som que eles ouviam. Na verdade, não era um som. Era um barulho qualquer no qual se escutava uma voz masculina dizendo: “chegando, chegando, chegando, chegando...” Alguns instrumentos solavam alguma coisa, e depois recomeçava: “chegando, chegando, chegando, chegando...” Ainda bem que eles diminuíram o volume do som. Mas o trânsito continuava lento. Quando estava dobrando à direita, meu celular tocou. Era a Raquel: “Querido, você já está chegando?” “Estou aqui ao lado da Novaterra, mas o trânsito está muito lento, tem carro demais.” Tudo bem, querido! Te aguardo aqui perto da entrada do pesque-pague.”

            Agora imagina aí, Márcio, um cara como eu, que vivia só para os estudos, que nunca tinha namorado, escutar uma voz linda me chamar de querido. E era a voz de uma pessoa que me cheirava, que me beijava sem eu pedir, que tinha uma iniciativa de carinhos que desabavam sobre mim como a cascata de respingos gelados da Bica do Ipu caindo sobre a gente no meio – dia de um dia qualquer, com a gente olhando gaviões cruzando o céu azul marchetado de pequenas nuvens que parecem capuchos de algodão. Quero só que você sinta o quanto eu estava apaixonado... Não, apaixonado, não! Estava amando profundamente a Raquel. E o interessante é que, alguns dias antes de conhecê-la, sonhei voando, cara. Dizem que sonhar voando é um sinal de felicidade no amor, mas durante pouco tempo. Te confirmo que isso é a mais absoluta verdade, pois aconteceu comigo.

Agora imagina aí também que, quando ela me chamou de querido, eu estava olhando aquela imensa fila de carros à minha frente, na qual se destacava o vermelho das lanternas traseiras. E o vermelho é a cor da paixão, do amor, do sangue, que corre mais rápido em nossas veias quando estamos amando. Além dessa visão, eu estava curtindo o Opus 1065, de Bach, na interpretação de Trace, aquele grupo de rock progressivo que você tanto admira.

- Uma visão e uma música muito legais!

- Junte a isso a voz maviosa da Raquel! Mas me deixe voltar ao sonho. Eu me projetava num vôo a partir da minha casa, no bairro São Pedro, até a casa da Raquel, no bairro Primavera. Tinha uma visão magnífica de Teresina e seus prédios, ruas e praças. A igreja de Nossa Senhora de Lourdes, na Vermelha, que parece um hangar; a Praça Saraiva, que é o nosso Central Parque Tupiniquim; o Liceu, que tem a forma da letra E...Que maravilha esta cidade vista de cima.

 - Mas o que você ia fazer num show de forró, se você não gosta desse tipo de música?

- Por causa de uma prima da Raquel, de Fortaleza, que estava aqui, e implorou que nós a levássemos.

Bem, depois de quase uma hora de TML, ou seja, de trânsito marcha lenta, consegui entrar no Atlantic. Encontrei Raquel e sua prima. Notei que três caras estavam olhando demais para elas e passaram a nos seguir. Disseram-me as duas que eles estavam tentando puxar papo com elas, se insinuando o tempo todo com piadinhas. Ficou, portanto, uma situação muito ruim. Estava no tipo de show que não gosto, a fim de ficar só com a Raquel e sem poder. Os caras começaram então a tornar mais ostensivas suas ameaças: passavam trombando na gente e não pediam desculpas, pisavam-nos o pé de propósito... Procurei um segurança e comuniquei o que estava acontecendo. Eles se afastaram, mas ficaram nos seguindo de longe.

Decidimos ir embora. Eles vieram atrás. Quando chegamos à avenida João XXIII, fingi seguir direto no rumo da ladeira do Uruguai, mas, sem ligar a sinaleira, fiz o primeiro retorno em direção do centro da cidade, entrando, indevidamente, na frente de dois carros que tiveram que frear. Devem ter me xingado muito. Meus perseguidores ficaram no retorno, impedidos de concluí-lo. Chinelei com vontade, fiz o balão do São Cristovão cantando pneu.  Mas, quando ia me aproximando do sinal que fica no cruzamento da João XXIII com a Nossa Senhora de Fátima, tive que reduzir a marcha, pois alguns carros estavam parados, envolvidos numa batida. Tive que passar a 30 km/h. Quando estava retomando velocidade, ainda bem antes da ponte, vi, pelo retrovisor, o carro dos três. Pisei fundo o acelerador. Quando ia chegando no 2º BEC, liguei a sinaleira para a direita, como se fosse pegar a Miguel Rosa, mas segui direto na Frei Serafim. Eles continuaram nos seguindo. A essa altura, a Raquel e sua prima estavam muito apreensivas.

Resolvi parar e descer. Eles fizeram o mesmo. Estávamos em frente do HGV.

- E aí, babaca, cansou? - Disse o mais forte dos três.

- O que vocês querem?

- As gatinhas

- Por que não vai atrás da tua mãezinha?!

Ele partiu com tudo pra me acertar um chute. Saí de lado no último instante, ele acertou a porta do carro e caiu gemendo de dor. Acho que torceu o pé. Ia cair em cima dele, quando os outros dois me pegaram por trás, um em cada braço. Eram fortes também. Não conseguia me libertar. Enquanto isso as meninas gritavam por socorro.

- Pronto, Jumentão! Acerta ele agora! – disse um deles.

Jumentão levantou-se mancando de uma perna, puxou um canivete, veio em minha direção. Raquel gritou não! no maior desespero e pulou na minha frente.

Foi profundo o corte sob o seio esquerdo. Quando eles viram o sangue jorrando, se mandaram.

Levei Raquel nos braços para o pronto-socorro do HGV. Chegou lá ainda com vida e perguntando se eu estava bem. Não resistiu, no entanto. Morreu quando eu a colocava numa maca para ser atendida.

- E o assassino? Você foi atrás deles?

- Não, Márcio. Perdi a vontade de tudo, até de viver. Minha família é que anda atrás deles. Hoje, só o que tenho na cabeça é uma voz cavernosa repetindo: “chegando, chegando, chegando, chegando”, seguida da voz da Raquel me perguntando: “Querido você já está chegando?” Espero que essas duas vozes sejam o prenúncio de minha morte breve, para eu me juntar à minha amada imortal.

 

                                                                         W. Ramos       

 

                                                          


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