O título acima é também o título de um poema de Gonçalves Dias, o autor da célebre Canção do Exílio, texto mais imitado de toda a literatura de língua portuguesa.
De tanto ver ministros caindo do governo da presidente Dilma, lembrei-me de que Gonçalves Dias tem um poema sobre um ministro e fui relê-lo. Tinha-o lido há bastante tempo, mas me recordava de que o poeta é ferino no texto, coisa que surpreende a qualquer leitor, pois a ideia mais comum que fazemos do autor da Canção do Exílio (e não é uma ideia errada) é que, em seus poemas, predominam o nacionalismo, o amor, a natureza e o índio nobremente idealizado. Portanto encontrar um texto irônico e político em Gonçalves Dias é algo que realmente surpreende.
Surpreende ainda mais quando comparamos o poeta maranhense com os poetas de hoje. Ele não tinha as garantias constitucionais nem o apoio de instituições como a OAB e a ABI que defendem a liberdade de expressão. Essas sequer existiam quando o poeta era vivo. Ele criticou duramente um ministro em sua época por risco e conta própria.
Nos últimos quinze anos, ocorreram os piores escândalos de corrupção política no Brasil, envolvendo ministros, presidentes da República, deputados, governadores, prefeitos, senadores e funcionários do alto escalão. Não se conhece, no entanto, um, pelo menos um, bom poema criticando tanta corrupção e desfaçatez. É estranho esse silêncio. Parece haver um pacto entre governantes e poetas. Nem mesmo Ferreira Gullar, o mais conhecido poeta brasileiro da atualidade e com um bom conceito junto à crítica, escapa. E olha que ele detesta o partido que está no poder. Mas, que eu saiba, ele não tem poemas criticando os vergonhosos malfeitos ocorridos nessa década e meia
Mas vejamos duas estrofes do poema de Gonçalves Dias, já que não temos nada dos poetas atuais para mostrar sobre os desmandos que ocorrem no Brasil de hoje. Voltemos ao passado, então:
“O ministro é a fênix que renasce
Das cinzas de outro, que a vez lhe cedeu:
Nasce num dia como o sol que nasce,
Morre numa hora como vil sandeu!
(…)
“ Pois que faríeis vós? Verter do peito
O melhor sangue, pela pátria acabar!
Imbecis! - pois mais vale como proveito
Da pátria à custa a vida flautear!”
Observe-se a ordem inversa do último verso. Na ordem direta, ficaria assim: “flautear a vida à custa da pátria.”
Qualquer semelhança com os ministros de hoje não é mera coincidência, não; é simplesmente a repetição de um comportamento criminoso que este país comete ao longo dos séculos.