A literatura existe. Falam dela na tevê, no rádio, nos jornais e revistas. É ensinada e discutida em salas de aula, em congressos, em mesas de bar, em saraus ou em simples encontros despretensiosos entre amigos. Serve para educar, para divertir, para fazer chorar, para evocar lembranças queridas, para revolucionar.
Por causa dela, há mais de um século formou-se um riquíssimo mercado editorial, que movimenta milhões de dólares e desperta cobiças desenfreadas. Em torno desse, às vezes se travam batalhas jurídicas que atravessam décadas, como a que ocorreu entre a editora Brasiliense e os herdeiros de Monteiro Lobato.
Por amor a ela e por não saberem fazer outra coisa, muitos escritores passaram pelas piores privações e foram chamados de vagabundos. Henry Miller, de tanto passar fome, criou uma metáfora em que ele afirma sentir caranguejos no estômago. No Brasil, entre o final do século XIX e as duas primeiras décadas do século XX, escritores geniais como Cruz e Sousa, Augusto dos Anjos e Lima Barreto sofreram o diabo, mas produziram obras de qualidade estética extraordinária. Só muita paixão pela arte de escrever pode explicar isso.
Também por amor a ela, muitos leitores, que às vezes não conseguem largar um livro, perdem compromissos e são chamados de preguiçosos. De vez em quando, nesta sociedade consumista, um leitor voraz, desses que não conseguem adormecer sem antes ler algum texto, ouve algo assim: “De que adianta tanta leitura se tu é um liso!”
Com base em suas formas narrativas, ao longo dos últimos cem anos, têm sido e ainda continuam sendo produzidos filmes, telenovelas e minisséries. O que seria do cinema e da tevê se não existisse o texto literário? Imagine-se o tanto de filmes que Hollywood já produziu a partir de romances, contos e novelas! O que seria da Globo sem a Literatura Brasileira? Agora mesmo, ela está aí, anunciando mais uma telenovela baseada numa obra literária, “Ciranda de Pedra”, de Lygia Fagundes Telles.
Ela é um tesouro inesgotável onde os apaixonados vão garimpar o poema de amor que querem enviar para a pessoa amada, juntamente com um ramalhete. É nesse mesmo tesouro que aqueles que estão amando vão encontrar versos e frases sobre as quais eles murmuram: “Mas como é que esse poeta está dizendo exatamente o que eu sinto?”
A literatura é tudo isso e muito mais, pois ela é como a própria vida: inesgotável.