Berço da democracia, da filosofia, da política, do esporte olímpico e da poesia, a Grécia hoje está falida economicamente. Foi a nocaute e está beijando a lona. Está devendo, dando calote nos credores e sem perspectiva de crescimento econômico. Imagine-se você, caro leitor, sem um tostão no bolso nem na conta bancária e desempregado, com os filhos e a mulher reclamando em casa, e os credores atrás de você, cobrando-o duramente e dando opinião sobre como você deve administrar sua vida. Nenhum deles acredita que você se recupere, pois sua dívida é muito superior ao que você ganha. Imaginou? Pois é! É desse jeito que se encontra o país que ensinou o Ocidente a pensar. Para conseguir mais dinheiro, os governantes estão tentando tudo. Parece que estão até alugando o Partenon para eventos.
É uma pena que eles não possam recorrer aos heróis da literatura e mitologia gregas. Se fosse possível, já pensou que maravilha! O valente Aquiles, o do calcanhar vulnerável, poderia organizar um campeonato de vale-tudo na Acrópole, cobrando caro pelos direitos de transmissão ao vivo e em cores. A Globo, a CNN, a BBC e outras gigantes não se incomodariam em espichar a grana e poderiam exigir que os combates fossem semelhantes aos que estão narrados na Ilíada e na Odisseia. O Galvão Bueno não precisaria gritar que "eles são os gladiadores da pós-modernidade" e outras tolices, já que não faz sentido comparar personagens míticos e poéticos com simples gladiadores romanos.
E a Penélope? A fidelíssima Penélope faria o que para obter grana? Ora, ela, em vez de passar vinte anos tecendo e destecendo um manto, poderia muito bem pegar um pouco da grana que a União Europeia está jogando ´na Grécia e montar uma pequena fábrica de tecelagem e produzir panos para os mercados interno e externo.
E Hércules, o homem mais parrudão que o mundo já conheceu, faria o quê? Primeiramente, ele teria que esquecer os famosos doze trabalhos da mitologia e enfrentar a realidade grega de hoje. Até mesmo porque agora não faz sentido trabalhar para rei nenhum, mesmo que seja uma ordem do oráculo de Delfos como condição para esse herói se purificar. O necessário, neste momento, é trabalhar por seu país, a Grécia. Para tanto, é preciso que esteja disposto a topar qualquer serviço. Não deve ser difícil nem constrangedor para um herói que aceitou fazer, de graça, doze trabalhos para um rei que sequer conhecia. Portanto, meu caro Hércules, lavar, passar, cozinhar, fazer carreto, levar turistas no ombro para a Acrópole, tudo isso é fichinha para quem segurou o próprio globo terrestre nas costas. E cuidado com os turistas, viu?! Não é para fazer com eles a brutalidade que, dentre muitas outras, você fez com o touro de Minos. O importante é juntar grana para sua pátria.
Há ainda dezenas de figuras que podem ajudar também a salvar a Grécia, como o ardiloso Ulisses e seu filho Telêmaco, o Agamenon, a belíssima Helena, os deuses do Olimpo e toda aquela turma de príncipes parasitas, que, na ausência de Ulisses, ficava na casa dele, tomando vinho, comendo churrasco e doidos para faturar a Penélope, apesar do constante fora que ela lhes dava sob o pretexto de estar tecendo um manto.
Dizem que uma das causas da falência da Grécia é o lado perdulário dos gregos de hoje. Faz sentido. Eles devem ter puxado, não para os grandes heróis poéticos, mas para os príncipes vagabundos que se ocupavam apenas em farrear e azarar a Penépole.