O romance “Os 7 Minutos”, de Irving Wallace, em sua mais recente edição, dada ao público pela BestBolso, uma subsidiária da Editora Record, tem 853 páginas. Li-o em vinte dias. Afazeres profissionais e domésticos me impediram de terminar a leitura em menos tempo. Seria possível fazê-lo. Talvez em oito ou dez dias, já que se trata de um texto envolvente cujas páginas é difícil a gente largar.
Minha história com esse livro começa no início dos anos 70, quando ele foi editado pela primeira vez no Brasil. Lembro-me de tê-lo visto na Leonel Franca, que ficava na Lizandro Nogueira, e na Dilertec, que se localizava na esquina da 13 de Maio com a Coelho Rodrigues. Olhava-o, mas estudante sem renda, apenas sonhava em comprá-lo. Ouvi, na época, comentários de algumas pessoas sobre essa obra. Afirmavam que 7 minutos era o tempo de duração de um ato sexual entre um homem e uma mulher ( dizia-se tal coisa, naqueles anos, à boca miúda, olhando-se para os lados e sem mulheres por perto.). Mas o livro é bem mais do que isso. Tem,sim, conteúdo erótico. No entanto é também uma narrativa metalingüística, isto é, voltada para o próprio fazer literário e os desdobramentos que o cercam. Estes se estendem da hipocrisia de uma sociedade metida a puritana até as batalhas jurídicas em torno da tentativa de se proibir a circulação do livro, passando por uma série de outros temas interessantes.
Agora em março, vi “Os 7 minutos” na Leonel Franca do Riverside. Não vacilei um segundo sequer. Comprei-o imediatamente até mesmo como se estivesse me vingando da época em que não pude comprá-lo. No mesmo dia iniciei sua leitura. Tive dificuldade em interrompê-la todas as vezes em que isso foi obrigatoriamente necessário, assim como um amante profissional tem dificuldade em deixar uma mulher, uma cliente, pela qual ele não devia se apaixonar.
Não se trata, é claro, de um livro perfeito nem de uma obra de arte extraordinária. É um bom romance. Mas tem alguns defeitos. O mais grave é a prolixidade. Suas 853 páginas podiam ser reduzidas a 500 e poucas sem prejuízo algum de seu conteúdo e estrutura. Essa falha está presente, com maior ou menor intensidade, em todos os autores norte-americanos de best-sellers e se deve ao fato de eles escreverem pensando sobretudo em dinheiro. Isso faz com que encham seus romances de suspense,prendendo o leitor, almejando a venda de milhões de exemplares e dos direitos de adaptação para Hollywood. É como uma bela e inteligente mulher se produzindo para conquistar muitos homens ricos,sejam eles quem forem.
Por fim, pode-se perguntar se o livro vale a pena. Vale, sim! Tem lá seus defeitos, que são provenientes da cultura mercantilista dos EUA, país que é o santuário do capitalismo. Não me parece, no entanto, que esses defeitos sejam mais feios do que o de escritores “malditos” que fazem uma literatura rabugenta, apartada de tudo e de todos, até mesmo do leitor.