Sommelier Ajoelhado
Wesley Fagundes, cujo nome verdadeiro – João Praxedes – ele detestava, tornou-se rico ao herdar do pai uma fortuna imensa. O velho, que iniciara sua vida de comerciante no balcão de um armazém de secos e molhados, começou a ficar rico, contrabandeando uísque importado. Ganhou muito dinheiro e aplicou em imóveis.
Filho único, Wesley, ao tomar posse da herança, teve, como primeira atitude, a mudança do próprio nome. Dirigiu-se ao cartório onde fora registrado e efetuou a alteração.
Daí em diante, procurou levar uma vida que o tornasse um homem culto, fino e elegante. Embora fosse muito rico, não conseguiu realizar esse objetivo plenamente. Vestia as melhores grifes, usava perfumes importados, só tomava uísque e freqüentava os melhores bares e restaurantes. Mas a parte cultural não avançava. Ele não conseguiu terminar o curso de francês e mal completou uma graduação em Direito numa faculdade particular. Raramente lia um jornal ou revista. Livro, muito menos. Andando sempre em lugares finos, percebeu que algumas pessoas cuja elegância admirava só tomavam vinho. Resolveu pesquisar sobre essa bebida e tornar-se um enólogo.
Um dia, Wesley conheceu Marta, uma anfitriã de um restaurante muito chique. Tentou sair com a moça. Ela deu-lhe um fora, dizendo-lhe que uma das exigências da casa era o não-envolvimento com clientes e que, para ela, seu emprego era muito mais importante do que qualquer homem.
Ferido na arrogância de um novo rico que não suporta ser contrariado, Wesley partiu para o ataque e resolveu conquistar Marta na base do custe o que custar. Subornando pessoas, ele descobriu o telefone e o endereço da jovem. Telefonou várias vezes, rondou sua casa e foi recebido apenas uma vez, mandou flores, mas tudo isso foi inútil. Ela continuava irredutível e tinha o apoio dos pais, que não iam com a cara dele. Chegavam mesmo a dizer que sua afetada elegância podia esconder violência e grosseria.
Vendo, com frustração, que não conseguiria ganhar sequer a simpatia de Marta, Wesley voltou a beber uísque e ainda mais à cowboy, sem gelo, sem água de coco, sem guaraná, sem nada. Deliciava-o o descer quente e rasgado da bebida pela boca, pela garganta, pelo esôfago, pelo estômago. Sentia como se estivesse rasgando as entranhas de Marta, que, em seu delírio (dele ), lhe suplicava piedade com lágrimas nos olhos.
Wesley decorou o poema “Estâncias”, de Fagundes Varela, e dirigiu-se ao restaurante onde Marta trabalha para jogar sua última cartada. Tomou algumas doses de Old Parr e pediu que a chamassem. Ela, ao saber de quem se tratava, solicitou que um segurança a acompanhasse. Quando chegou à mesa , ele se ajoelhou e começou a recitar o poema. Ela então o interrompeu e disse: “Você queria ser um enólogo, mas se tornou um sommelier de quinta categoria; por favor, não me aborreça.” Afastou-se e pediu que o segurança resolvesse o problema.
W. Ramos