Em 14 de março, sábado, houve um recital na Praça do Liceu para comemorar o Dia da Poesia. Organizado pela Fundação Cultural Monsenhor Chaves, o espetáculo contou com apresentações de dança, de violonistas e declamação de poemas, alguns de Castro Alves, poeta homenageado no evento. O público era constituído, principalmente, por uma pequena parcela daquelas, aproximadamente, 500 pessoas que aparentam gostar de cultura.
Quando lá cheguei, estava ocorrendo um número de dança. Em seguida, Cineas Santos, presidente da FCMC, pegou o microfone, declamou alguns poemas e convidou algumas crianças para que fizessem o mesmo. Depois, Erisvaldo Borges e dois violonistas executaram algumas músicas. Mais uma vez, poemas foram declamados.
De repente, vi chegar o escritor Eneas Barros. Mas já chegou olhando para o céu, com medo de chuva. Não demorou muito, o homem sumiu. Nem parece que é nordestino. Vai ter medo de chuva assim lá em Santa Catarina! Com certeza, está com mais de 50 anos que não toma um banho de chuva. Logo em seguida, no meio de uma premiação para alunos de escolas públicas, começou a cair um imenso toró. Correu todo mundo para o bar que fica na praça. O Cineas, esse foi outro que ninguém viu mais. Com a chuva, o homem escafedeu-se. Também não parece um nordestino. O bar, que é um dos mais antigos de Teresina, estava com seus freqüentadores habituais: pessoas que gostam do forró eletrônico de hoje e sequer se lembram se existe o tipo de poesia que estava sendo declamado no praça.
Sentindo-se ofendida pelo forró escrachado que tocava no momento, uma pessoa que estava no evento dirigiu-se ao garçom para reclamar daquele tipo de música. Não foi atendida, é claro! Bem feito que não tenha sido atendida! Ora, ora, como é que alguém, que não freqüenta determinado bar, que está ali passando uma chuva literalmente, pode se sentir no direito de reclamar da música? Por que não foi reclamar de seus amiguinhos que dizem gostar de poesia e não apareceram no evento que homenageava a poesia? Por que não foi reclamar das dezenas e dezenas de teresinenses que pensam que são poetas e lá não apareceram?
Evidente que o recital não continuou. A chuva acabou com ele. Porém, muito mais do que ele, estão acabadas a consideração e a preferência da sociedade teresinense pela poesia. Pobre poesia! Pois, numa cidade de aproximadamente 850 mil habitantes, apenas umas 60 pessoas apareceram para louvá-la, numa das praças centrais da Capital do Piauí, menos de 0,1% da população. Desdenhada poesia! Coitada!