Refiro-me ao leitor literário, aquele que gosta de poesia e ficção, não é escritor nem participa de igrejinhas literárias. Poucos seres neste mundo são tão desprezados, tão deixados ao léu da indiferença de muitos escritores e publicações culturais.
Tomemos, como exemplo, caro leitor, a mais recente edição da revista Cadernos de Teresina (ano XXII, nº39, abril 2008), cujo texto de apresentação não se dirige ao leitor nem a ninguém. Trata-se de um excelente exemplo de falta de objetividade. Como é uma revista custeada com o dinheiro do contribuinte, espera-se que ela tenha uma linha editorial que, dentre outros propósitos, tenha alguma preocupação com o leitor, dirigindo-se a ele, instigando-o, provocando-o, convidando-o a uma leitura prazerosa, abrindo um canal com ele e solicitando-lhe que escreva pequenos e-mails ou cartas comentando as matérias publicadas.
Mas, não! Nada disso acontece! A linha editorial da Cadernos de Teresina parece ser a mesma da maioria dos escritores de hoje e pode ser resumida nesta frase: “Sou autêntico e não faço concessões!” Tudo bem! Ninguém é contra a autenticidade e o radicalismo de quem se posiciona dessa maneira. Mas, se publica, principalmente se publica em um órgão público, deve abrir um canal de comunicação com o leitor; deve ter um mínimo de objetividade e clareza; deve querer conquistar leitores(e lembre-se, a propósito, que objetividade e clareza não são inimigos da criatividade nem da linguagem figurada.Morte e Vida Severina, por exemplo, é um poema objetivo e claro, mas também rico em invenção e figuras de estilo). Relativo à ficção, na revista em pauta há dois contos. Ambos, no entanto, são altamente revolucionários quanto à linguagem e à magia. Estão bem distantes do leitor e bem próximos das turminhas literárias. Isso me lembra uma entrevista que, há muitos anos, Mário Prata concedeu a Bóris Casoy. Dentre muitas coisas interessantes, o escritor disse isto: ”Bóris, eu quero ser lido, quero que meu livro venda. Não sou e nem quero ser um escritor marginal, incompreendido pelo público. Não quero ficar lamentando o insucesso e achando que o leitor é burro. Não! O leitor é inteligente, mas temos que saber tocá-lo.”
Pena que seja pequeno o número de escritores que pensam assim. A maioria se esquece de que o leitor é uma das principais razões de o texto existir. Além disso, é enorme o número de pessoas inteligentes e cultas, mas distantes da poesia e da ficção. A culpa é somente dessas pessoas? Ou os poetas e ficcionistas é que se afastaram desses virtuais leitores literários?
O poeta Fabrício Carpinejar, em artigo para a revista Superinteressante, publicado há um certo tempo, comentando a relação entre poetas e leitores, deu uma resposta parcial às perguntas que fazemos no parágrafo anterior. Para ele, a poesia é que se afastou das pessoas. É verdade. Mas o pior é que não é só a poesia. A ficção, também.
Não é fácil atinar com as causas dessa rejeição ao leitor. Uma delas talvez seja o fato de que hoje temos uma literatura com excesso de professores querendo ser poetas e ficcionistas. Daí advêm a sofisticação e a artificialidade que tanto afastam os leitores, mas agradam os membros das panelinhas literárias, seja nas academias ou nas mesas de bar.