Musica
Diretor monta estúdio em seu apartamento para gravar shows intimistas de músicos
O diretor, fotógrafo e produtor Rafael Kent, de 34 anos, não toca nenhum instrumento, mas se considera um músico frustrado. Cresceu na geração MTV, sempre andou com a "galera mais rock 'n roll" e se apaixonou por música muito cedo, mas nunca ficou sob os holofotes. Quando subiu ao palco, foi para entrar no backstage. Foi lá que conseguiu suprir sua vontade de trabalhar na área. Além de ter produzido bandas baianas e dirigido clipes — para o Jota Quest, ConeCrewDiretoria, Sepultura, entre outros —, deu início ao seu projeto mais ousado, o Studio62. A proposta é simples em forma e conteúdo: artistas vão até o apartamento de Kent, a uma quadra da Rua Augusta, em São Paulo, e cantam, a capella ou com poucos instrumentos, diante de suas lentes. Já passaram por lá nomes como Maria Gadú, Dudu Nobre, Marcelo D2, Flora Matos, Fresno, Tulipa Ruiz, Negra Li, Péricles, Planta e Raiz e a britânica Jesuton. Eles não recebem cachê. Topam participar porque gostam da iniciativa. Em uma das apresentações preferidas de Kent, Negra Li canta "Saudosa maloca", improvisando a percussão com estalos e batidas no peito. No meio da canção, ela se emociona e começa a chorar. — Eu fico muito feliz de ter recebido tanta gente na minha casa, pessoas que acreditaram no meu conceito e apostaram, de certa forma, em algo bonito e poético — reflete Kent. Os vídeos, sempre fotografados em preto e branco, tentam criar uma atmosfera intimista, e, uma vez finalizados, são postados em uma página do YouTube, onde já foram vistos mais de seis milhões de vezes. Os equipamentos de filmagem, que Kent pega emprestado de sua produtora, a Okent Films, não são muitos, mas o suficiente para compor a sua estética.
— O mais simples é sempre o mais difícil e o mais legal. É possível fazer grandes produções com pouco orçamento. A culpa nunca é só da falta de equipamentos. Acho que é justamente por sabermos lidar com tão pouco que a coisa fica tão bonita — explica Kent, que aposta na qualidade visual para diferenciar seus vídeos. — Um roteiro maravilhoso não funciona sem uma boa fotografia. O Studio62 começou a nascer há dois anos, quando Kent viu o cantor e compositor Tiago Iorc fazendo um cover de "Tempo perdido", do Legião Urbana. "Na hora, soube que precisava gravar aquilo", lembra. Convidou o músico brasiliense para se apresentar em seu apartamento. O vídeo — o primeiro do que viria a ser mais de 50 — foi ao ar em novembro de 2012. — Na época, eu não tinha a intenção de transformar isso num projeto. Mas, durante a filmagem, vi que não podia mais parar. Tinha ficado muito legal — conta. — Sempre tive conhecidos na área musical, mas foi quando comecei a gravar com artistas fora do meu grupo que caí na real: o que eu estava fazendo era um projeto brasileiro, e não mais de nicho. Mas aí vieram as dificuldades. — Depois de um ano de produção, achei que fosse desistir. Não recebemos investimento. Eu já estava cansado, porque um projeto assim toma tempo. Mas depois a angústia passou, e mais artistas apareceram. Um dos maiores incentivos veio de Marcelo D2. O rapper gostou tanto da iniciativa de Kent que não só gravou em seu estúdio, como também o convidou para dirigir um DVD do Planet Hemp, de quem o diretor é fã desde os 15 anos. Hoje, ele é procurado por gravadoras, que veem no Studio62 um canal de promoção fora dos meios tradicionais. — Costumo dizer que a pessoa precisa ter uma percepção emocional e artística muito sensível para se interessar pelo projeto. Se a pessoa não tiver essa visão, não vai achar importante.
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Fonte:
O Globo |