“Catuca pai, catuca mãe, catuca filha,
Eu também sou da família,
também quero catucar.”
(Folclore Piauiense – Terreiro de Fazenda)
O ano de 2010, no Piauí, foi dedicado a homenagear um dos escritores mais fecundos da moderna literatura brasileira, João Nonon de Moura Fontes Ibiapina (1921-1986), autor de extensa obra que vai de contos, romances até um dicionário de termos nordestinos.
Patrono do 8º Salão do Livro do Piauí (SALIPI), Fontes Ibiapina, continua sendo lembrado em feiras e encontros literários pelo Estado. Sua obra, Terreiro de Fazenda, faz parte da lista de livros de leitura obrigatória do vestibular UESPI 2011/2012 e será tema de uma exposição do 6º SALIVA (Salão do Livro de Valença do Piauí) no mês de setembro.
Fontes Ibiapina foi um dos poucos escritores piauienses que a exemplo de Vítor Gonçalves Neto teve a coragem de transpor para a ficção os duros anos de repressão do período da ditadura Vargas quando comandava o Piauí o interventor Leônidas Melo, e Teresina, o prefeito Lindolfo Monteiro que no código de postura do município instituiu a proibição de construções de casas cobertas de palhas na zona urbana da capital.
Em Palha de Arroz, Fontes Ibiapina, nos traz a dimensão de uma Teresina provinciana, sem energia elétrica e marcada por incêndios criminosos contra uma parcela marginalizada da população. É o segundo romance a retratar uma Teresina urbana, antecedido por “Um Manicaca” (1909), de Abdias Neves.
Palha de Arroz traz cenas picarescas, mas carregadas de um drama peculiar aos párias nordestinos, notadamente quando apresenta o universo da prostituição como via de sobrevivência da maioria das mulheres que vivia nos bairros suburbanos da capital (se é que havia essa divisão entre urbano e suburbano numa Teresina que, embora tenha sido a primeira capital planejada do País, tinha sequer energia nos postes para iluminar as ruas) sendo os lampiões de azeite os únicos a cumprirem essa função e em pequena escala.
A publicação de Palha de Arroz tornou-se referencial para tratar de temas até então negligenciados pela literatura de autores piauienses e aprofundou o debate em torno da marginalização social. As personagens de Palha de Arroz foram de certo modo retrabalhadas com maestria em obras de mesmo viés como Beira Rio Beira Vida (1965) de Assis Brasil.
Fontes Ibiapina se firmou como herdeiro do romance regionalista de 30 que imprimiu o neo-realismo na obra de ficção ao representar os tipos mais comuns do nordeste brasileiro, numa clara demonstração de que o Piauí, também possuía mestres autênticos na arte de produzir romances, contos, entre outras formas de expressão artística. Basta lembrar que alguns de seus livros foram premiados nacionalmente como Chão de meu Deus – livro de contos que revela os costumes, as crenças – o modo de vida do povo piauiense.
Com Terreiro de Fazenda o escritor piauiense nos revela o cotidiano de sua infância passada em Picos até os 20 anos. As estórias que povoam o livro não possuem autoria definida sendo parte do imaginário popular nordestino contado em rodas de conversas que na maioria das vezes contava com a presença de violeiros, contadores de causos entremeadas de brincadeiras infantis e emboladas.
O Salão do Livro de Valença do Piauí (SALIVA) dará enfoque especial a Terreiro de Fazenda por ser o livro mais ligado a literatura de cordel tema escolhido pela organização do evento para edição de 2010 que contará ainda com uma exposição sobre a vida e a obra de Patativa do Assaré. A parte iconográfica trará ainda charges, cartuns, tirinhas e caricaturas assinadas pelo artista plástico valenciano George Barros.