Durante o natal, em cada canto da cidade você encontra um chato encastelado numa barba branca para esconder sua indisfarçável mediocridade como animador de festa. Até o rô!, rô!, rô! é repetido há séculos. Nem pra mudar pra rá, rá!, rá! Ou, então: ré!, ré!, ré!. Quase me esquecia da sonífera frase “Feliz natal e próspero ano novo”. Entra ano e sai ano e ninguém cria um texto novo, como “Próspero natal e feliz ano novo”. Sempre que o Papai Noel bota uma criança no colo pra dar beijinho, espero que ela dê uma rajada de cocô nas pernas dele.
Todo pai de primogênito é chatíssimo. No primeiro aniversário, o infante já é exposto ao ridículo. Amigos presentes no churrasco da laje, e o panaca do pai querendo exibir seu troféu, começa a exigir do ainda inexplorado cérebro: “Diga p a p a i, meu lindo”. Recorrendo ao direito constitucional de só falar em juízo, o inocente silêncio do menino irrita. Aí, o babaca volta à carga: “Diga p a p a i. P a p a i, filhote! P a p a i aqui, lindinho!”. Mesmo estalando os dedos, não há reação do bebê. Só as risadas pálidas dos presentes. Ótimo!
Na noite do natal, você tem que demonstrar muita euforia com boas gargalhadas, se deixar fotografar e ainda elogiar aquelas iguarias compradas na padaria ao lado. Na missa do galo você ouve frases de efeito: “Vamos renascer para o perdão”, “Ser solidário é crescer”, “Natal é amor e alegria”, etc., como se essas palavras de ordem não devessem ser objeto de prática do cotidiano. Sem falar na barbitúrica harpa que lembra enterro de freira virgem.
Sem dúvida, toda nora que quer fazer média com a sogra, fingindo cuidados com o namorado, é uma chata incomível. Exemplo: Môooor!, Já tomou se remedinho? Nada de geladinha hoje, viu, môooor? Acontece quando o mané está gripado, por exemplo. E o que é pior, na maioria das vezes ela fica berrando lá do outro canto da sala, com a voz de taboca rachada. Insuportável esse recurso do diminutivo, achando que a sogra é inocente.
Perguntei a Mhercio, um amigo, se ele conhecia algum chato. “Não muitos exemplares da categoria”, disse. Mas lembrou que todo cara que fala de si mesmo na 3ª pessoa é chato. Verdade! O ouvinte tem que está muito concentrado no papo para não achar que o chatólogo está se referindo a outra pessoa, ou que a outra pessoa é o chatólogo que está em sua frente.
Todo chato dorme cedo. Antes de o galo cantar, ele começa a esbravejar achando que está prestando um inestimável serviço à humanidade: "Gente, não vai acordar não?” Ninguém responde, mas ele insiste. Chatólogo também ´e o indivíduo que pra tudo diz "Com certeza...!”. Essa resposta geralmente é dada em entrevista. Por exemplo, "O Bahia ganha hoje?" O carinha responde: "Com certeza...!". Sempre com aquela voz de carregador de pedra. Na mesma linha de produção, eu acrescentaria outra jóia. Perguntado se tudo vai bem, ele responde: “Tô de boa”. Nunca entendi a construção dessa frase. Será uma corruptela de “Estou numa boa”, dos hippies?
Quem nunca não deu carona a um chato que não vê há anos? Conversa vai, conversa vem e, numa rapidez meteórica, ele vai emendando uns assuntos com os outros, sem que a história inicial tenha sido concluída. Na hora de saltar, ele se despede com esta pérola: “Recomende-me à madame!” E você, confuso, conclui que será impossível juntar os fatos.
Situação hilária a fila de banco destinada aos idosos. Pessoas de bengala, alguns com tapa-olho e outros com aparelho de surdez. Lembra enfermaria em campo de batalha. Numa conversa animada com o amigo que lhe acompanhou, um bisbilhoteiro logo atrás tenta entrar no papo balançando a cabeça como se concordasse com o que você diz. No seu primeiro descuido, ele emite uma opinião. Após o atendimento, você sai do banco certo de que se livrou do chatólogo, mas é bom não esquecer de que, da próxima vez, olha ele lá de novo.
Afirmo, de pé junto, que toda septuagenária que usa franjinha, querendo parecer adolescente, pertence ao grupo das chatólogas militantes. E também as oitentonas que se aventuram a dançar “a boquinha da garrafa”, entregando-se a fantasias inebriantes, na expectativa de fazerem estrago no primeiro marmanjo que estiver à solta na área. Tô fora!