Se algum dia eu sair do sério e cometer algum desatino, pode ter certeza de que foi contra algum guardador de carro. Além de querer demonstrar que é especialista em manobras radicais pra estacionar, no final ainda lhe chama de painho. Não gostaria de ser interpretado como preconceituoso. É apenas intolerância decorrente da minha idade quase provecta.
Além do guardador de carro que ocupa o centro do insuportável, existe algo mais incompreensível do que o uso do dedo polegar pra todas as situações, mesmo sendo elas ambíguas? Caso seu carro seja fechado no trânsito indo parar em cima do passeio pra evitar a colisão, lá está o imbecil com o dedo polegar em riste achando que seu gesto equivale a um pedido de desculpas. Se você é condescendente no trânsito e permite que o carinha passe na sua frente, lá está ele com aquele mesmo dedo polegar tentando lhe agradecer.
Nos anos 70, a minha geração costumava classificar de Kit Chatólogo todo indivíduo que usava caneta Mont Blanc, máquina de calcular HP e paletó quadriculado. Atualmente, o Kit Chatólogo é dedicado a quem pretende demonstrar seu elevado nível de intelectualidade, utilizando expressões como ”agregar valor”, “em termos de”, “superar limites”, “em nível de”.
E a genialidade dos pseudo conquistadores que se acham originais? Frases como: “Você tem colher?” A vítima dessa bestialidade responde: “Por quê?” Resposta: “Porque estou lhe dando sopa”. Outra do Mané se referindo a uma gata que passa na sua frente: “É muita areia pra meu caminhão!”. Ou então: “Você é a nora que mamãe queria ter”.
Outra categoria de chatólogo é composta daqueles que passam o dia fazendo catequese, buscando adeptos para teses nas quais ele acredita. Os maconheiros, por exemplo. Certo amigo tenta me convencer de que a cannabis sativa faz bem a quem sofre de asma. E eu sempre tenho que explicar que não era asmático. O uso do cigarro, caminhadas matinais e religião significam um prato cheio para os chatólogos.
Em artigo publicado por um publicitário chamado Lula Vieira, ele jura que toda mulher que faz caminhada com uma garrafinha de água e fica “mamando” de segundo em segundo é uma chata. Um amigo seu também jura de pé junto que um dos maiores indícios de babaquice é usar o paletó nos ombros, sem os braços nas mangas.
Esse mesmo publicitário classificou de chato todo cara que tem mania de fazer aspas com os dedinhos ao ironizar algum fato ou se referir a uma frase de terceiros. Ele disse também que jamais conheceu um restaurante de boa comida com garçons vestidos de colete vermelho. Em relação ao primeiro caso, minha concordância é total. Quanto ao restaurante, cujos garçons vestem coletinho vermelho, vou prestar mais atenção daqui pra frente.
Uma espécie muito comum de chatólogo que anda à solta por aí são mulheres que acham o chope amargo. Quando você perceber que tomar chope se converte em auto-sacrifício para esses tipos, pode afirmar, sem erro, que elas são chatíssimas. É um crime inafiançável deixar o indefeso chope esquentando. Devem responder pelo crime de Abandono de Incapaz.
Há uns 20 anos, morei num edifício onde as senhoras sempre promoviam novenas e, vez por outra, eu tinha que participar desses prosaicos encontros. Ficar segurando a mão do vizinho, os olhos fechados e tentando receber energia positiva era um a dos momentos mais hilários desse chatíssimo convívio geriátrico.
E aqueles Deputados chatólogos que, ao serem indagados se está tudo bem, respondem: “Melhor estraga”. Ou então: “Melhor agora que lhe vejo”. É o máximo da chatice demagógica!
Certa apresentadora da Rede Globo de Televisão sempre se despede do seu público mandando para todos “um beijo no coração” Nunca entendi essa estranha mutação genética dos humanos que estão nascendo com o coração exposto. Eu, hein!