Está circulando na Internet um artigo através do qual o renomado jornalista Carlos Chagas estabelece um comparativo entre o perfil dos cinco ex presidentes militares e os seguidores de Lênin que estão atualmente no comando do país. Carlos Chagas enaltece a honestidade de Castelo Branco. Costa e Silva, Garrastazu Médici, Ernesto Geisel e João Figueiredo. No meu entender, a honestidade de pessoas não é um favor, é um pressuposto. Sendo assim, nenhum elogio a ninguém.
Acho perigoso o posicionamento do jornalista. Tem-se a impressão de que ele reza de pé junto querendo a volta do regime militar em substituição à nossa recém nascida democracia. Carlos Chagas é um formador de opinião que, a exemplo de qualquer brasileiro, está no dia-a-dia com problemas tão graves que a nossa atenção não deveria ser desviada com salamaleques aos militares, mesmo sendo do domínio público a roubalheira, a lerdeza, o descaso com a meritocracia, a falta de pudor e a inexistência de políticas públicas na área da saúde, da educação, da segurança, da infra estrutura que marcam a atual política dos bolcheviques do PT. Esses, sim, são temas que tiram o sono de qualquer um, merecendo a reflexão atual de todos os brasileiros.
O que pretende Carlos Chagas? Reverenciar os militares? É uma ode aos bons modos do ciclo político verde oliva? Se for, é bom lembrar que a gestão militar não foi tão limpa como dizem. O aeroporto do Galeão é um exemplo. A sujeira que aconteceu com as obras de reforma daquele aeroporto só não veio a conhecimento do público por que a imprensa, à época, era vigiada a ferro e fogo 24 horas por dia.
Carlos Chagas, com certa razão, compara a postura dos militares com o descalabro comportamental dos revolucionários petistas que estão encastelados no poder. Ele diz, por exemplo: “Nenhum dos militares mandou fazer um filme pseudo biográfico pago com dinheiro público, de auto-exaltação e culto à própria personalidade. Nenhum deles usou dinheiro público para fazer um parque homenageando a própria mãe. Nenhum deles usou o hospital Sírio e Libanês. Nenhum deles saiu de Brasília, ao fim do mandato, acompanhado por 11 caminhões lotados de toda espécie de móveis e objetos roubados. Nenhum deles apareceu embriagado em público. Nenhum deles passou a apoiar notórios desonestos depois de tê-los chamado de ladrões”.
Compreensível a indignação do jornalista Carlos Chagas. Esqueceu-se, inclusive, de mencionar o mensalão, considerado por Roberto Gurgel, Procurador Geral da República, como o maior e mais sofisticado esquema de corrupção já visto no país. Só acho que devemos adotar uma postura crítica em relação a Carlos Chagas quando coloca os ex presidentes militares no pódio da lisura nacional. Devemos repudiar essa falsa honestidade atribuída aos milicos, mesmo reconhecendo que muitos deles seguramente são honestos. Mas, saudades deles no poder, nem pensar!
A suposta honestidade dos cinco ex presidentes cantada em verso e prosa pelo jornalista jamais irá ofuscar as ações truculentas daquele período forte da nossa história, com o amordaçamento do congresso, da imprensa, dos sindicatos, das universidades e da classe política. Não esquecer também que qualquer tipo de organização da sociedade civil era justificativa para prisões, torturas e até assassinatos. Araguaia, por exemplo.
Prefiro a honestidade acompanhada de democracia plena. Isso vale pra militares e para partidos políticos, independentemente das siglas e da coloração ideológica.