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Artigo
Sarah Menezes, um grito de alerta
Nidalvo Quinto
Sou baiano, sabidamente um povo alegre e hospitaleiro, igualzinho ao piauiense, gente ordeira, educada e que fala bem o português. Mas, ao invés de enfatizar características encontradas no Piauí e na Bahia, porque não estender certas similitudes ao resto do Brasil? O futebol e o carnaval, por exemplo. Mas, há certas mazelas, algumas muito graves, comuns aos baianos, aos piauienses e sergipanos, que me permitem o direito de meter o bedelho em assuntos dos irmãos piauienses.
Esse quase pedido de licença tem como base as cenas que assisti pela televisão mostrando a simpática judoca Sarah Menezes, uma piauiense de 21 anos, botar a mão na medalha de ouro depois de vencer, em Londres, a campeã mundial de 2008, a super romena Alina Dimitru.
É a primeira vez na história do judô brasileiro que uma mulher sobe no topo do pódio numa Olimpíada. Mas, essa história não para por aí. A exemplo de milhões de brasileiros, Sarah Menezes pertence ao grupo social classificado de “baixa renda”. Ela mora em algum bairro periférico de Teresina e, certamente, vivencia diariamente os mesmos problemas de quem pertence à classe D ou E. O nosso Brasil varonil é assim. Vez por outra, surge das cinzas, ou melhor, da pobreza, um herói nacional. No caso, uma heroína.
Ao contrário da China, Estados Unidos, Cuba e países europeus que apostam muitas fichas na juventude, aqui no Brasil a obstinada Sarah certamente deve encontrar dificuldades pra conseguir patrocínio até do governo. Se eu estiver enganado, peço que me desculpem, por favor. Entre os empresários, os da região nordeste em especial, ainda não existe “cultura” de um mecenato desenvolvido a ponto de associarem suas marcas e produtos ao teatro, ao cinema, à dança, à literatura, ao circo, à música e ao esporte, exceção feita ao futebol.
Depois de alcançar, com méritos de sobra, o mais alto degrau da fama nas Olimpíadas de Londres, provavelmente os piauienses irão ver de perto a pequena Sarah Menezes desfilando em carro aberto do Corpo de Bombeiros pelas ruas de Teresina. Nada mais justo pra Sarah e seus conterrâneos que, emocionados e orgulhosos, vão conhecê-la e venerá-la.
A vitória retumbante de Sarah Menezes é mais um grito de alerta. O desfile, caso ocorra, significará um nocaute nas autoridades governamentais, nos empresários em geral e em certos políticos. Nocaute no governo, seja a esfera municipal, estadual ou federal, porque deixou vir à tona a falta de políticas públicas consistentes voltadas para a população jovem; nocaute nos empresários em geral, pela miopia mercadológica e descrença nas linguagens culturais enquanto mecanismo de reforço à imagem das suas empresas, e pelo descaso com a cultura e o esporte; por fim, nocaute nos políticos porque, de forma despudorada e oportunista, tentarão desfilar ao lado de Sarah, querendo se apropriar da tenacidade e do sucesso dessa bela jovem com o objetivo de angariar simpatia e votos que eles não merecem.
Próximo dia 2 de agosto, todos vamos assistir ao início do julgamento dos atores do maior escândalo de corrupção da história política deste país. Faço votos que, em respeito às Sarahs desse imenso Brasil, o Judiciário se comporte com altivez e dignidade no julgamento dos 38 sócios do Mensalão. Se assim for, será uma justa homenagem a Sarah Menezes.
Ó pátria amada,
Idolatrada,
Salve! Salve!
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