Volta e meia, a imprensa insinua que o turismo é o principal responsável pela prostituição infantil, chegando a propor uma caça aos nossos turistas e que sejam denunciados às autoridades. Esse entendimento tem tomado conta das pessoas menos avisadas, a ponto de afirmarem de forma diferente, nem por isso menos equivocada, que as crianças estão sendo vítimas da principal motivação do visitante, o sexo.
É evidente que tanto a exploração quanto o abuso das nossas crianças são atitudes incompatíveis com os objetivos fundamentais do turismo, sendo essa a razão pela qual não acredito que órgãos oficiais de turismo e empresários do setor desenvolvam ações de natureza promocional alardeando os atributos da mulher, seja esta adulta ou menor.
No meu entender, a origem da exploração sexual de menores é estrutural, nunca descolada de questões graves como degradação familiar, droga, desemprego, pobreza, etc. Queiram ou não, a distribuição de renda no Brasil deixa a desejar e, a persistir este cenário, independentemente do crescimento ou não do turismo a tendência é de avanço dos índices de violência no país, seja contra o menor ou contra o cidadão em geral.
As economias crescem, mas esse dado não representa um indicador de absorção de mão-de-obra. Esse me parece o desafio maior do mundo atual, inclusive para os países do Primeiro Mundo. No período de 1996 a 2007, se não me engano, o PIB da Europa cresceu 78% e a geração de emprego estacionou em 14%. Em maio deste ano, o desemprego na Espanha chegou a 20%. A França e a Itália estão na fila quando o assunto é o mesmo. A OIT - Organização Internacional do Trabalho -, prevê 22 milhões de pessoas batendo perna pelas ruas da Europa e os Estados Unidos perdem o sono quando lembram que têm de criar nove milhões de postos de trabalho para os desempregados da crise de 2008.
Para o nosso Brasil varonil, a modelagem desse quadro geral contém alguns ingredientes tão desafiadores quanto irreversíveis. O avanço tecnológico, a longevidade e o crescimento populacional são exemplos. O primeiro elimina mão-de-obra, o segundo mantém o indivíduo ativo e o terceiro despeja indivíduos no mercado disputando a sobrevivência.
O nordeste, cuja vocação de destaque é a atividade turística, é a primeira região a sentar no banco de réus, e o turismo é o protagonista quando se fala em exploração infantil. Numa rápida abstração, caso Fortaleza, Recife e Salvador não fossem cidades turísticas, padeceriam desse drama social? Creio que sim. Fácil deduzir, portanto, que a prostituição infantil é pré-existente à atividade do turismo.
Com base nos resultados de uma pesquisa denominada “Meninas de Salvador”, a autora e socióloga baiana Marlene Vaz condena impiedosamente os taxistas, os agentes de viagem, os hotéis e a EMBRATUR, fazendo referência às campanhas que, segundo a socióloga, com o passar dos anos, os objetivos foram esquecidos, provando que os interesses voltados para esse tipo de comércio falam mais alto.
A pesquisa de Marlene Vaz aponta a cadeia do turismo como o algoz das garotas menores de idade. No meu entendimento, a análise dessa senhora perdeu a credibilidade porque navegou na zona da superficialidade, quando deveria ter mergulhado nas verdadeiras causas do problema.
Com a palavra, portanto, os taxistas, os agentes de viagem, os hoteleiros e o Presidente da EMBRATUR, antes que dêem início ao julgamento de Nuremberg.