Conta bancária recheada, sem o amor dos filhos, sem amigos e saúde precária. Esses são os ingredientes de certo cidadão baiano que, ao invés de amar os Beatles e os Rolling Stones, era perdidamente apaixonado pelo dinheiro que guardava embaixo do colchão.
Não sabia ele que o dinheiro é apenas um meio. Só se justifica essa acumulação desvairada quando se tem um projeto de vida pra gastar racionalmente a dinheirama disponível, como por exemplo, morar muito bem, viajar, freqüentar bons botecos, bares e restaurantes, fazer amigos, ter carros confortáveis para me transportar, sendo um deles conversível, usar roupas de grife, ajudar a um amigo que esteja em dificuldade, assistir a shows e peças de teatro, e fazer muita farra não só com amigos, mas também e, principalmente, ao lado de gatinhas angorás.
O dinheiro tem sentido não pelo que vale, senão pelo que significa. Seu significado pra mim é MEIO. Bill Gates, o pai do PC, em que pese ocupar uma das primeiras posições no ranking dos cidadãos mais ricos do mundo, irá sozinho no caixão sem a companhia das verdinhas que tanto ama.
Se tiver filhos, é evidente que irei contemplá-los sob várias formas, desde que não cobre de mim mesmo, no futuro, caso essa ajuda tenha comprometido meus projetos individuais. A vida é residual. Por exemplo, depois destas reflexões, seguramente estarei vivendo menos. E quanto tempo foi subtraído da minha vida? O equivalente ao tempo gasto na feitura deste texto.
Volta e meia, me lembro do meu querido pai rezando, e não fazia segredo para nenhum de nós quando dizia “Não me deixais cair em tentação, livrai-nos do mal, amém”. Pra mim, seria uma acachapante derrota perante a vida se eu tivesse que levar à risca essa frase. Que venham as tentações e os males! O que não devo é ter atitudes condenáveis perante as pessoas.
Esse indivíduo ilheense que mantém a conta bancária transbordando de grana me lembra um riquíssimo cacauicultor de Itajuípe, chamado Antônio Isidro. Muito reservado, entrava no bar de Mané Pecadão, pedia uma cerveja e só bebia a metade. A outra metade ele mandava guardar para o dia seguinte.
Outro caso hilariante é o de Oscar Soares, considerado o maior produtor de cacau da Bahia. Semanalmente, ele se dirigia à agência do ex Banco Econômico da Avenida Cinqüentenário, em Itabuna, sacava todo o saldo da sua conta bancária, contava nota por nota e, em seguida, depositava tudo na conta novamente. Cheio de fidalguia, declarava que só queria saber se tudo estava lá, bem guardado.
Desnecessário dizer que os funcionários do Banco, de tanta ojeriza, homenageavam a mãe desse mão-de-vaca com termos proibidos para menores.