Semana passada, li um artigo de cujo autor não me lembro, que falava de uma discussão protagonizada pelo caixa de um supermercado e uma senhora septuagenária de quem ele cobrava mais atenção com o meio ambiente, responsabilizando a geração dela que não se preocupou com o assunto. E mostra a sacola de tecido como arma para salvar o planeta. Ela, prontamente, deu o troco. Apontou como causas do estrago atual ao meio ambiente o desenvolvimento tecnológico, a explosão demográfica e a mudança de hábitos e costumes.
E a vovó continuou esbravejando com o Caixa: você está certo, meu filho, minha geração não se preocupou adequadamente com o meio ambiente. Naquela época, as garrafas de leite e de refrigerante eram devolvidas às fábricas; as fraldas dos bebês eram lavadas, porque não eram descartáveis; muitas roupas eram secadas ao sol, e não em máquinas de lavar de 220 volts; na cozinha, nossas mãos faziam tudo e hoje as máquinas mandam. E continuou. Com sede, bebíamos água na fonte, ao invés de usar copos plásticos e garrafas pet que tanto emporcalham os oceanos.
Se eu estivesse na fila desse supermercado, meteria o bedelho na conversa, acrescentando à fala da vovó a ausência de fiscalização no sentido amplo, a falta de campanhas educativas e de estratégias governamentais de preservação, além da falta de educação do nosso povo. Vez por outra, vemos carcaças de carros velhos, sofás e até pneus serem içados de algum rio, desmatamentos e outras agressões, não?
A sociedade, ou seja, nós mesmos temos que nos mobilizar, não só em defesa do meio ambiente, mas também em favor de tudo que consideramos o direito do cidadão, como educação, saúde, segurança, infra-estrutura, água de qualidade, ética na política, etc.
Por falar em ética, é visível a crescente indignação da sociedade diante da corrupção e da impunidade dos maus políticos. Carlinhos Cachoeira é líder nesse ramo. Mas, para reflexão vou listar algumas situações envolvendo o comportamento dos brasileiros no dia-a-dia. Caso procedam, não pela quantidade, senão pelo que significam, me vejo perdido num imenso deserto de pessimismo, incapaz de vislumbrar uma saída em longo prazo. Vejamos.
Somos capazes de subornar o guarda para evitar uma multa; somos capazes de comprar as perguntas da prova do vestibular ou do ENEM; estamos dispostos a corromper a testemunha que viu nosso filhote, embriagado, atropelar alguém; jogamos a embalagem do sorvete na rua, desde que ninguém esteja vendo; também, somos capazes de estacionar o carro em cima do passeio, apesar da placa proibitiva; mesmo sabendo que dirigir bebendo sujeita o motorista a penas severas, insistimos no erro e ainda mentimos quando a polícia pergunta pela quantidade de álcool ingerida; estimulamos o filhão a comer a filha da empregada, mas nossa filhota não pode dar ao filho da empregada; se a nota do restaurante vem a menor, fazemos vista grossa, mesmo sabendo que o garçom vai pagar a conta. Tudo isso está no DNA dos humanos, creio.
Ainda com referência ao meio ambiente, reconheço que o caixa do supermercado estava no cumprimento do seu dever quando pedia àquela senhora para usar sacolas de tecido. Mas também entendo o sentimento de cólera que tomou conta da nossa vovó quando ela assiste sua geração ser crucificada pela forma insolente com que tratam hoje o meio ambiente.
Enquanto isso, persiste a matança da natureza, nos levando a assistir à morte anunciada do próprio homem. Ou seja, estamos sendo vítimas da nossa própria bestialidade.
O índio está corretíssimo quando diz que somente quando vir a última árvore derrubada, o último animal extinto e o último rio poluído, o homem aprenderá que não se come dinheiro.