Antes que me considerem um terrorista radical, talvez um seguidor do finado Osama, líder da Al Qaeda, deixo claro que tenho plena lucidez quanto às armadilhas a que se sujeita o incauto cidadão que acredita cegamente no planejamento enquanto função capaz de se sobrepor aos interesses políticos de curto prazo. Sei que o voto pode anular todos os pressupostos e paradigmas teóricos, sem que o tecnicismo seja, de longe, levado na devida conta. Até porque, o planejamento é uma ferramenta que permite perceber a realidade, avaliar os caminhos e construir um referencial futuro. Mas esse processo leva tempo, e o poder político não quer esperar.
Planejar é um processo que depende fundamentalmente da integridade de informações que só o estudo e a pesquisa revelam. E o que é a pesquisa, senão a busca do conhecimento sobre determinada realidade, num certo momento, através da investigação? Em razão disso, tanto o estudo quanto a pesquisa representam um subsídio técnico essencial de suporte à ação de planejar. Mas esse processo leva tempo, e o poder político não domina essa “cultura”.
Enquanto jovem récem formado em Administração nos idos 70, já não me arrependia de acreditar piamente no planejamento, participando de debates, pesquisas e projetos que mal cabiam numa vida inteira. E depois, então, que assisti a Antônio Carlos Magalhães estabelecer o necessário equilíbrio temporal entre a importância do planejamento e a política de varejo, aí sim, adotei posturas vulcânicas diante da função de planejar.
Sem que seja intencional colocar minha experiência em relevo mas, no setor do turismo em particular, participei da elaboração do Plano de Turismo da Bahia para o período 1979 - 1986 e, em seguida, da Estratégia Turística da Bahia, período 1991 - 2002, que previa a expansão da geografia turística da Bahia e elevados investimentos em infra-estrutura. Era o retorno do conceito de planejamento estratégico que se ajustava ao pensamento do governo. Por último, tive uma participação direta na elaboração da Estratégia Turística da Bahia para o período 2003 - 2020 que abrange infra-estrutura, marketing turístico, capacitação de pessoas, preservação ambiental, preservação do patrimônio e captação de investimentos privados.
Nenhum desses planos mencionados aqui prescindiu de levantamentos, inventários, pesquisas, estudos e diagnósticos que direcionaram prioridades e demandas turísticas. Orientação empresarial, definição da capacidade de carga de espaços em municípios pré-existentes ao turismo, mercados emissores prioritários, por exemplo.
Em razão da transversalidade que caracteriza o turismo, seu Gestor Público tem que ser portador de um perfil especial. Além da capacidade de convencimento e integração dos setores governamentais, tem que reconhecer que não manda em ninguém. Apenas articula.
Sua realização vem do estímulo à realização de políticas públicas que favoreçam a atividade turística. Nada, além disso.