Júlia começou a estranhar a demora do marido Cristiano no banheiro. Afinal de contas, ele estava lá há uns 40 minutos, quando no dia-a-dia cinco minutos eram suficientes para seu banho. Abriu a porta e, pra sua surpresa, lá estava ele, feliz da vida: espelhos embaçados, todo ensaboado e cantarolando a canção Dio como te Amo.
Perguntado sobre a demora, Cristiano esclareceu: Você não sabe o que aconteceu, Julia! Ontem, encontrei Angélica no Shopping Iguatemi. Já lhe falei sobre ela, lembra? Intrigada, Julia responde: Não, não falou. Sem se fazer de rogado, Cristiano explicou: Angélica foi a minha primeira namorada na adolescência e a grande paixão da minha vida. Marcamos um encontro pra hoje às cinco horas, no Porto da Barra. Desolada, Julia ainda tentou consertar: Posso ir junto? Não, não pode. Vai ser uma inesquecível “sessão nostalgia”, disse Cristiano.
Demonstrando calma zero naquela hora, Julia pega a chave na porta do banheiro e tranca Cristiano por fora. Ele, transbordando ingenuidade, implora: Julia, abre essa a porta. Assim, vou chegar atrasado e não quero que a moça me espere! Não sabia Cristiano que Julia já havia saído ao encontro de algumas amigas pra curtir a noite e tomar uns goles de chope.
Perto da meia noite, Julia chega em casa e só lembra de Cristiano porque sente vontade de ir ao banheiro. Com remorso, abre a porta e lá estava o pobre coitado nu, sonolento, deitado sobre um “colchonete” improvisado com a toalha de banho, batendo o queixo de frio. No dia seguinte, Cristiano foi parar na UTI do Hospital Português por ter contraído uma pneumonia que só foi debelada após duas semanas com antibióticos de última geração.
Já em casa, conhecendo Cristiano como ninguém, Julia resolveu minimizar as conseqüências que poderiam advir do seu desmedido ciúme, e se antecipou: Cris, você não tem dúvidas quanto ao amor que sinto por você, não é? O sempre pacato Cristiano, dominado pelo seu ofidiário, partiu para elogios impublicáveis à mãe de Julia, a simpática D. Marisa. Cristiano previu que, depois dali, poderia ficar exposto ao sereno sem as deliciosas mordomias do restaurante da sogra, entre as quais o Badejo ao Molho de Camarão, seu prato preferido. Mesmo correndo esse risco, mas com os olhos injetados de ódio, comunicou a Julia sua decisão de iniciar uma carreira solo. E assim aconteceu.
Lembro de D. Alayde, minha sábia mãe, que sempre nos aconselhava: Filho, mais importante do que a verdade é a forma de dizer a verdade. Concordo com minha saudosa fofinha!