Pelo sim, pelo não, o ex-soldado Marcos Prisco decidiu desocupar o prédio da Assembléia Legislativa da Bahia logo depois que o JN exibiu uma gravação telefônica na qual ele incitava colegas a praticarem atos de vandalismo em estradas baianas.
Ao invés de líder, prefiro chamá-lo de “ex-soldado”. Sim, porque entre um e outro há uma distância abissal. Um dos pré-requisitos do líder é ser carismático, ter equilíbrio emocional e dispor de conteúdo específico em substituição à insensatez e atos de jactância. Se o pretenso líder tem alguma ligação com a atividade policial militar, aí são exigidas outras qualidades como, por exemplo, não confundir o movimento com seus projetos pessoais, agir acima de tudo em conformidade com a Lei e adotar atitudes que não se confundam com atos de bandidagem. Usar capuz e armas, retirar crianças e incendiar ônibus escolares, por exemplo.
Mas o que causou estranheza mesmo é que o Comando da PM sabia que o perfil do ex-soldado compromete a imagem da Polícia Militar construída ao longo do tempo. Sabia também dos atos de bandidagem utilizados pelo ex-soldado como estratégia de luta. Mesmo assim, o Comando da PM adotou esse rapaz como porta voz da Corporação.
Todos perdemos com a greve: o pachorrento Congresso Nacional onde, há 24 anos, a Lei Complementar sobre o direito de greve adormece nos escaninhos do desleixo; o governo que não enxergou a real dimensão da greve, e tratou o movimento como um assunto meramente burocrático; a população que, amedrontada e humilhada, assistiu à sua Constituição ser pisoteada e seus direitos civis irem pra lata do lixo; a PM que, desgastada pela sua postura marginal, atropelou a população se colocando como uma entidade que vem antes da lei. Por último, perde o General chorão que, recorrendo à palavra de ordem Make love, not war, se joga nos braços do rebelde PM, numa tórrida cena que só a cantora Alcione soube descrever em Meu Ébano:
É!
Você é um ébano
Lábios de mel
Um príncipe negro
Feito a pincel
É só melanina
Cheirando à paixão...
E agora, como ficará o relacionamento da PM com a população? Olho no olho? Qual será, por exemplo, o comportamento de um PM tendo que dar ordem de prisão a um bandido? E como ficará o Judiciário, caso considere irrelevante a conduta dos PM’s, mandando arquivar o processo contra os 12 militares acusados de atos de vandalismo? Se assim for, o que será relevante daqui pra frente? Roubar a galinha caipira do vizinho, roubar um caro, estuprar alguém? Quem sabe se tudo isso também não será irrelevante!
Do lado da Polícia Militar, a greve agonizou até o 11º dia sem que tenha angariado a simpatia e o apoio da população contra a qual agiu com indignidade. Quanto ao primeiro escalão do Governo, sem que percebesse deixou escapar um tema perturbador e da maior saliência nos dias atuais, a falta de políticas públicas, em especial, ações consistentes voltadas para a segurança da população.
Foi apenas uma bomba de retardo. Resta saber até quando esse filme vai ficar em cartaz.